sábado, 27 de novembro de 2021

Cientistas observam novo tipo de simbiose em que bactéria fornece energia para a célula.

Link para texto completo: https://super.abril.com.br/ciencia/cientistas-observam-novo-tipo-de-simbiose-em-que-bacteria-fornece-energia-para-a-celula/

Resumo: A bactéria “respira” nitrato e fornece energia para o protozoário, que, por sua vez, protege-a dentro da célula. A descoberta está relacionada à hipótese de origem da mitocôndria. 

Se você absorveu algum conteúdo das aulas de biologia do ensino médio, com certeza se lembra que a mitocôndria é a fonte de energia da célula. Ela é responsável pela respiração celular: entra oxigénio e glicose e saem pacotinhos de energia conhecidos como ATPs.

O que chama a atenção nas mitocôndrias é que nem sempre elas fizeram parte das células. No passado, elas provavelmente eram bactérias independentes, até que foram engolidas por outro organismo, ancestral das células eucariontes. Essa assimilação, que ocorreu há mais de um bilhão de anos, foi boa para os dois lados, que passaram a viver em simbiose - o ancestral da mitocôndria fornecia energia para a célula enquanto ficava protegido pela estrutura ao seu redor.

Com o passar do tempo, a mitocôndria foi se tornando cada vez mais integrada até se tornar uma organela presente nas nossas células. Ela inclusive possui material genético próprio (DNA mitocondrial) e capacidade de autorreprodução, sem precisar de comandos da célula hospedeira.

Agora, cientistas do Instituto Max Planck de Microbiologia Marinha detectaram um tipo de simbiose parecido com esse, mas que nunca havia sido visto na natureza: uma bactéria que vive dentro de um protozoário, fornecendo energia para ele. Só que em vez de usar oxigénio para gerar essa energia, a bactéria “respira" nitrato.

“Uma simbiose baseada na transferência de energia na forma de ATP, como observamos aqui, é sem precedentes. Na verdade, o único outro simbionte que tinha uma função parecida é justamente aquele que deu origem à mitocôndria no passado”, disse a pesquisadora Jana Milucka à Super. 

Os dois seres foram descobertos no fundo do Lago de Zug, na Suíça. O protozoário é formado por uma única célula e até possui mitocôndrias, mas a Candidatus A. ciliaticola (como foi chamada a bactéria que vive lá dentro), pode complementar ou até substituir essa produção de energia. 

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Microrganismos em âmbar são descobertos na Bahia por equipe da UFRJ

Link para texto completo: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Biologia/noticia/2021/10/microrganismo-preservado-em-ambar-e-descoberto-na-bahia-por-equipe-da-ufrj.html

Resumo: O professor Leonardo Borghi, do Instituto de Geociências (Igeo) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), estava perto de Salvador quando encontrou rochas contendo algo muito raro: fósseis de protozoários com idades entre 125 milhões e 145 milhões.

Novas amostragens revelaram que os microrganismos estavam preservados em âmbar, uma resina fóssil incomum no Brasil. Então, o achado foi analisado pelos pesquisadores Thiago da Silva Paiva, do Instituto de Biologia da UFRJ, e Ismar de Souza Carvalho, do Igeo. A equipe publicou seus achados na revista científica Scientific Reports, no último dia 27 de setembro (2021).

A pesquisa é parte de uma série de estudos que descreve as primeiras espécies microscópicas imersas em âmbar do Brasil. O projeto também promete ampliar o conhecimento sobre a história evolutiva de microrganismos. E é possível ainda que o achado ajude a investigar depósitos de rios e lagos do período no qual a América do Sul e a África ainda eram unidas em um único continente, o Gondwana.

Entre as descobertas está um fóssil de um protozoário ciliado da espécie Palaeohypothrix bahiensis, que viveu durante o Cretáceo Inferior. Trata-se de um exemplar de uma linhagem extinta que até então era desconhecida pela ciência, apesar de ainda haver protozoários modernos vivendo em ambientes terrestres e aquáticos. Esses micróbios são, inclusive, usados por cientistas como indicadores para medir a qualidade da água e dos solos.

Os protozoários pertencem ao reino protista, cujos organismos já habitam nosso planeta há cerca de 1,8 bilhão de anos. Contudo, o registro fóssil desses seres é relativamente escasso, então pouco se sabe sobre a maioria dos grupos de protistas – e as novas descobertas são muito importantes para preencher essas lacunas.

P. bahiensis, por exemplo, é um representante extinto e diferente dos protozoários atuais. Logo, segundo conta Paiva ao Conexão UFRJ, o protozoário pode ajudar a compor o quebra-cabeça da história natural desses microrganismos e “reforça a hipótese de que são suscetíveis a eventuais processos de extinção, assim como ocorre com animais e plantas”.

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Sobre questões e notas do ENEM: Questões ineficientes compõem 2% do Enem e não contam para nota

Link para matéria completa: https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2021/11/questoes-inadequadas-compoem-2-do-enem-e-nao-contam-para-nota.shtml?utm_source=whatsapp&utm_medium=social&utm_campaign=compwa

Acesse e leia tudo. É interessante e importante para quem quer saber mais sobre o ENEM e TRI.

Resumo: A matéria fala sobre como é avaliada cada questão do ENEM em termos de cumprir ou não sua função de detectar quais são os melhores candidatos. Fala também sobre a Anulação Silenciosa (sem comunicar a todos) de questões que não foram eficientes. No fundo levanta dúvidas sobre a pré-testagem (está acontecendo de fato?) e sobre a própria caixa-preta da TRI.

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Covid: 1º caso em Wuhan foi de vendedora de mercado de animais, diz estudo.

Link para matérias completas: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/rfi/2021/11/19/covid-1-caso-em-wuhan-foi-de-vendedora-de-mercado-de-animais-diz-estudo.htm

https://g1.globo.com/saude/coronavirus/noticia/2021/11/19/primeiro-caso-de-covid-19-foi-de-vendedora-de-mercado-de-animais-em-wuhan.ghtml 

Resumo: Cientista traça linha do tempo e conclui que paciente zero originalmente identificado pela OMS na verdade adoeceu dias depois. Estudo fornece "fortes evidências" de que vírus teve origem animal, diz pesquisador.

O primeiro caso de Covid-19 identificado na cidade de Wuhan, na China, ocorreu dias depois do que se acreditava, e o verdadeiro paciente zero tem, na verdade, ligação com um mercado de animais, afirmou um pesquisador de alto nível em artigo publicado na revista científica Science.
Em vez de um homem que nunca havia estado no mercado de animais vivos de Wuhan – onde se vendiam animais selvagens e domésticos –, o primeiro caso da doença é o de uma vendedora que trabalhava nesse mercado, segundo o virologista Michael Worobey, do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos.
O pesquisador criou uma linha do tempo dos primeiros casos conhecidos de Covid-19 na cidade chinesa, compilando-os a partir de várias fontes, como notícias de jornais e informações disponíveis de hospitais. Para ele, esses dados são indício de que o coronavírus Sars-Cov-2 teria mesmo se originado de um animal.
Desde o início da pandemia, especialistas debatem a origem do vírus, na ausência de evidências definitivas. O próprio Worobey fez parte de um grupo de 15 especialistas que publicou um artigo na Science em meados de maio pedindo uma consideração séria da hipótese de um vazamento do laboratório em Wuhan.
Agora, em artigo publicado nesta quinta-feira (18/11/2021), ele afirma que sua pesquisa "fornece fortes evidências em favor da origem da pandemia em um mercado de animais vivos".

Rebatendo as críticas à tese
Uma crítica à teoria da origem animal dizia que, como as autoridades de saúde alertaram sobre casos de uma doença suspeita ligada ao mercado de animais já em 30 de dezembro de 2019, isso teria introduzido um viés que levou à identificação de mais casos no mercado do que em outros lugares, uma vez que a atenção já estava voltada para ele.
Para rebater esse argumento, Worobey analisou casos suspeitos de Covid-19 relatados por dois hospitais antes de o alerta sobre o mercado ser acionado.
E esses casos também estavam em grande parte ligados diretamente ao mercado, e os que não estavam pelo menos se concentravam geograficamente em torno dele.
"Nesta cidade de 11 milhões de habitantes, metade dos primeiros casos está ligada a um lugar do tamanho de um campo de futebol", afirmou o cientista ao jornal americano New York Times. "Fica muito difícil explicar esse padrão se o surto não tiver tido início no mercado."
Outra crítica à teoria se baseava no fato de o primeiro caso identificado em Wuhan – considerado o paciente zero pela Organização Mundial da Saúde – não ter relação com o mercado.
Contudo, embora o relatório da OMS afirmasse que esse paciente estava doente desde 8 de dezembro de 2019, na verdade ele só adoeceu em 16 de dezembro, disse Worobey.
Essa dedução foi baseada em uma entrevista em vídeo que o cientista encontrou, a partir de um caso descrito em um artigo científico e a partir de um prontuário de hospital que correspondia ao homem de 41 anos, originalmente identificado como paciente zero.
Isso significa que o primeiro caso de Covid-19 conhecido seria, na verdade, da mulher que trabalhava no mercado, que adoeceu em 11 de dezembro.
Peter Daszak, um especialista que fez parte da equipe de investigação da OMS, disse que ficou convencido com a análise de Worobey. "Aquela data de 8 de dezembro foi um erro", disse ele ao New York Times.

sábado, 13 de novembro de 2021

Como explosão de cometa formou misteriosos 'campos de vidro' do deserto do Atacama

Link para matéria completa: https://g1.globo.com/ciencia/noticia/2021/11/12/como-explosao-de-cometa-formou-misteriosos-campos-de-vidro-do-deserto-do-atacama.ghtml

Resumo: No lugar que hoje é o deserto do Atacama, no norte do Chile, provavelmente um evento apocalíptico ocorreu há pelo menos 11 mil anos. Um cometa teria explodido ao se aproximar da superfície da Terra, gerando um jato de fogo com ventos semelhantes aos de um furacão ou um tornado.
Naquela época, a paisagem daquela região do planeta era muito diferente da aridez absoluta atual: havia vegetação abundante, animais gigantes e corpos d'água, possivelmente lagoas.
O inferno gerado pela explosão do cometa no céu não só teria a capacidade de destruir os seres vivos na Terra, mas também criaria um mistério para os geólogos até os dias de hoje.
É que em um ponto do deserto do Atacama, chamado de pampa do Tamarugal, foram descobertas em 2008 rochas com formações cristalinas de origem incerta até pouco tempo atrás.
Na semana passada (novembro, 2021), um grupo de cientistas publicou os resultados de um novo estudo em que concluíram que os campos de vidro foram criados pelo efeito da explosão de um cometa.
"Esta explosão desceu em direção à superfície do solo como um plasma muito quente, a cerca de 1.700° C", explica o geólogo Nicolás Blanco à BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC).
"Esse plasma foi acompanhado por ventos com força de furacão, semelhantes aos dos tornados. O calor combinado com os ventos gerou os corpos derretidos com parte do material do cometa, fundindo e incorporando essas rochas que também foram derretidas."
Em 2008, o geólogo descobriu os campos de vidro junto com seu colega Andrew Tomlinson (ambos do Serviço Nacional de Geologia e Mineração do Chile, Sernageomin). Isso levou à pesquisa de Blanco, Tomlison, Peter Schultz, Scott Harris e Sebastián Perroud publicada em 2 de novembro na revista Geology.

Um mistério do deserto
Os campos de vidro estão espalhados em uma faixa de cerca de 70 km de extensão nos pampas do Tamarugal. As formações rochosas que apresentam incrustações cristalinas, após serem analisadas, foram catalogadas como originárias do Pleistoceno Superior. Ou seja, teriam pelo menos 10,5 mil anos de idade. "A rocha é do tipo escória, como são conhecidas na indústria siderúrgica, com vidros de cor verde escura que não têm valor econômico em si, porque não possuem uma beleza particular", explica Blanco. "Dentro desse material fundido, existem pequenos cristais microscópicos que lhe conferem a característica especial que possui."
As mudanças em nosso planeta que criaram o deserto teriam gerado a hiperaridez pela qual muitas dessas rochas foram preservadas quase que no mesmo momento em que foram formadas.
"Isso não é muito comum. Existem algumas evidências em algumas partes da África e da Austrália, com climas áridos, e é mais fácil observá-las lá. Mas em áreas com vegetação é muito difícil (de enxergá-las), por isso é uma descoberta bastante interessante para a ciência ", conta Alejandro Cecioni, subdiretor nacional de geologia da Sernageomin, à BBC News Mundo.
Quando Blanco e Tomlinson encontraram as rochas, se perguntaram como elas teriam se formado. "O exemplo do impacto de meteoritos na superfície da Terra já é conhecido: eles formam crateras e deixam vestígios de rocha derretida que indicam os efeitos da alta temperatura e pressão do impacto."
"Mas nesta região essas crateras de impacto não existem. Então, como se explica uma fonte de calor diferente do impacto de um meteorito?"
Esses tipos de formações cristalinas podem ser encontrados em outras partes do planeta, onde a atividade vulcânica, a colisão de um meteorito ou a queda de um raio deixaram uma marca no solo.
Mas naquele ponto do deserto do Atacama não há evidências de vulcões ou vestígios do impacto de um corpo espacial de tal magnitude. O que os pesquisadores descobriram são três minerais que consideram essenciais.
As análises mostraram que nos vidros ocorre a fusão de cubanita, trolita e baddeleyita, sendo que os dois primeiros minerais são aqueles detectados em meteoritos e cometas.
Nos anos 2000, a missão Stardust da NASA trouxe para a Terra amostras do cometa Wild-2 com a presença de cubanita e trolita.
Como não havia evidência de queda de meteorito, os cientistas acreditam que a fusão de minerais e a formação cristalina foram causadas pelo impacto de um cometa.
"Esses três elementos eram indicativos de que o processo de formação estava em altíssima temperatura e era gerado por esse processo térmico que vinha do espaço", afirma Blanco.

A Teoria do Grande Fogo
Um evento com características semelhantes ao impacto de que falam os cientistas não foi documentado pela humanidade. O "evento de Tunguska", uma grande detonação na Rússia no início do século 20, é atribuído à explosão aérea de um meteorito, uma vez que não deixou uma cratera na superfície da Terra. Mas não causou tanta devastação quanto se sabe que ocorreu no Atacama, no Chile.
"Os dois eventos coincidem com a destruição da megafauna local. Naquela época (onde hoje é o Atacama), havia animais de grande porte que ficavam em um ambiente com vegetação, que também queimou em temperaturas muito altas, o que não é muito comum", diz Cecioni, que faz parte do Serviço Nacional de Geologia e Mineração do Chile.
Uma teoria anterior aventava a hipótese de que as formações de vidro eram causadas pelo incêndio na vegetação, mas Blanco afirma que não há evidências de que um incêndio de superfície possa gerar uma quantidade de calor superior a 1.700°C, a ponto de derreter os minerais encontrados.
Em geral, incêndios florestais podem gerar temperaturas de até 500°C. "Nenhum incêndio florestal em lugar nenhum deixou evidências de vidro derretido dessa magnitude. Nos grandes incêndios florestais em várias partes do mundo, nunca foi relatada a existência de fusão de solos", diz o geólogo.
Por esse e outros motivos, ele e seus colegas consideram que as evidências da formação das misteriosas rochas com cristais são produto de um evento de liberação de energia como a explosão de um cometa.

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Caenorhabditis elegans: O verme que ajudou a explicar o desenvolvimento do corpo humano

Link para matéria completa: https://g1.globo.com/ciencia/noticia/2021/11/07/o-verme-que-ajudou-a-explicar-o-desenvolvimento-do-corpo-humano.ghtml

Resumo: Você já ouviu falar do Caenorhabditis elegans? É um ser excepcional, uma celebridade em laboratórios, que foi indispensável para várias descobertas e contribuiu para o sucesso de seis ganhadores do prêmio Nobel.
Seu nome é uma mistura das palavras gregas (caeno, que significa "novo" ou "recente", e rhabditis, algo como "bastão") e em latim (elegans, que quer dizer elegante). Mas, para abreviar, é chamado de C. elegans.
Em seu ambiente natural, esse minúsculo verme vive no espaço entre os grãos de terra, e foi no solo da Argélia que o zoólogo francês Émile Maupas o encontrou — ele foi o primeiro a isolá-lo, descrevê-lo e selecioná-lo como sua espécie de referência em 1900.
Vários cientistas seguiram seus passos, particularmente o biólogo francês Victor Nigon e a bióloga americana Ellsworth Dougherty. Mas foi graças à busca do biólogo sul-africano Sydney Brenner por um novo modelo animal que pudesse ajudá-lo a explorar os mistérios do desenvolvimento e do comportamento humano que o verme ficou famoso, em 1963.
"Precisávamos de um organismo com o qual pudéssemos estudar genética de maneira adequada", afirmou Brenner na época.
"Como era preciso ver onde uma célula terminava e outra começava, tinha que ser com o microscópio eletrônico, então, eu precisava de um organismo pequeno que caberia na janela desses microscópios. Finalmente, decidi por esses pequenos vermes nematódeos, C. elegans, e comecei a trabalhar com eles."
"Sydney Brenner é um deus na comunidade de vermes por ter escolhido este organismo modelo", diz Gordon Lithgow, vice-presidente do Instituto Buck de Pesquisa sobre o Envelhecimento, nos Estados Unidos.
"O que ele realmente fez foi tomar uma decisão muito sábia que permite estudar biologia realmente complexa em um sistema simples. E essa foi a verdadeira genialidade. Trata-se de uma biologia básica, sem dúvida, mas é incrível como essa biologia básica agora se traduziu para os humanos e a compreensão das doenças."
O C. elegans produz mais de 1.000 ovos por dia — eles podem ser cultivados em grande número, e culturas saudáveis ​​podem ser congeladas e depois descongeladas e revividas quando necessário. 
Na verdade, a aparência do C. elegans é um dos seus muitos atrativos para se tornar um modelo. "A grande vantagem é o fato de ser transparente. Dá para ver através de sua pele!", exclama Lithgow.  "Você pode realmente ver células e processos biológicos acontecendo, apenas olhando por um microscópio."
"Além disso, é pequeno. Tem menos de um milímetro de tamanho, então você pode cultivar centenas de milhares desses vermes em laboratório, e isso é muito importante se você estiver buscando um gene raro ou algo parecido."
"A genialidade de Sydney Brenner foi perceber que, embora tenhamos centenas de bilhões de células em nosso cérebro, o verme tem apenas 302 neurônios, e você pode observá-los através de sua pele transparente e estudá-los."


Caenorhabditis elegans — Foto: BBC

Por que é tão ideal?
  • O verme nematoide C. elegans é muito mais simples do que os humanos — não tem, por exemplo, ossos, coração ou sistema circulatório — mas compartilha muitos genes e vias moleculares conosco;
  • Além disso, muitos dos sinais moleculares que controlam seu desenvolvimento também são encontrados em organismos mais complexos, como os humanos;
  • Muitos dos genes no genoma do C. elegans têm equivalentes funcionais em humanos, fazendo dele um modelo extremamente útil para explorar doenças humanas;
  • Formas de C. elegans nas quais genes específicos são alterados podem ser produzidas com muita facilidade para estudar de perto a função dos genes;
  • Essas mutações fornecem modelos para muitas doenças humanas, incluindo distúrbios neurológicos, doenças cardíacas congênitas e doenças renais;
  • Podem ser usados para testar milhares de drogas em potencial para doenças importantes.
"O verme é espetacular como organismo modelo por uma série de razões", diz à BBC Bob Waterston, professor de Ciências do Genoma da Universidade de Washington, nos Estados Unidos.
"Tem menos de 1 mil células na idade adulta e sabemos quais são todas essas células e o que fazem. É pequeno, então, é possível obter uma grande quantidade delas, e isso é importante para a genética, porque permite observar vários eventos raros. É difícil fazer a genética de um rinoceronte, como Sydney costumava dizer!", acrescenta Waterson, que ingressou no laboratório de Sydney Brenner em Cambridge, no Reino Unido, no início dos anos 1980 e é mais conhecido por seu trabalho no Projeto Genoma Humano.

terça-feira, 9 de novembro de 2021

Consumo exagerado de álcool deixa marcas físicas nas células do esôfago e pode levar ao câncer, aponta estudo

Link para matéria completa: https://g1.globo.com/ciencia/noticia/2021/11/09/consumo-exagerado-de-alcool-deixa-marcas-fisicas-nas-celulas-do-esofago-e-pode-levar-ao-cancer-aponta-estudo.ghtml

Resumo: O consumo exagerado de álcool deixa marcas físicas nas células do esôfago, podendo levar ao câncer no órgão, revelou um estudo realizado por pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o câncer de esôfago é o oitavo tipo mais comum no mundo e o sexto de maior mortalidade.
Durante cinco anos, os pesquisadores coletaram amostras de tecido tumoral e de sangue com o intuito de analisar o genoma de 552 indivíduos com câncer para identificar a chamada "assinatura mutacional" - um padrão específico de mutações no DNA para alguns tipos de câncer.
O objetivo da análise era traçar um perfil dessas mutações e, assim, apontar quais fatores comportamentais ou não levaram ao surgimento do câncer no paciente.
“Um caso conhecido é o de câncer de pulmão, em que essa espécie de marca genética é causada pelo tabaco. O que observamos e ficou comprovado nesta análise é que o álcool deixa um rastro específico nos tumores de esôfago. No entanto, seguiremos realizando outros estudos, com novas amostragens, buscando investigar as marcas dos outros agentes conhecidos”, explica Luis Felipe Ribeiro Pinto, chefe do Programa de Carcinogênese Molecular e coordenador de pesquisa do Inca.
Os resultados da pesquisa, publicados na revista científica Nature Genetics, integram um projeto maior, chamado Mutographs, liderado pela Agência Internacional para Pesquisa em Câncer, da Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS) e pelo Instituto Sanger do Reino Unido, que conta com um grupo de cientistas de dez países. O Inca é o representa do Brasil e da América Latina neste grupo.
Para compor o estudo, foram analisados o genoma de pacientes de oito países com incidência variável: Brasil, China, Irã, Japão, Kenya, Malawi, Reino Unido e Tanzânia. Em todos eles, a assinatura mutacional foi semelhante, afirmam os pesquisadores.
"Associações entre assinaturas mutacionais específicas e fatores de risco foram identificadas para tabaco, álcool, ópio (...)", dizem os autores no estudo.
No Brasil, o câncer de esôfago é a quinta doença que mais mata homens, sem considerar os tumores de pele não melanoma. Não à toa, do total de amostras analisadas, 5,4% eram de pacientes do Inca.
Bebidas alcoólicas, assim como o tabagismo e a ingestão de bebidas muito quentes (chimarrão) são fatores que favorecem o aparecimento da doença.

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Por que degelo do permafrost é uma das maiores ameaças ao planeta

Link para matéria completa: https://www.bbc.com/portuguese/geral-59179808

Resumo: Um dos maiores desafios que a humanidade enfrenta hoje é como reduzir a produção de gases que estão superaquecendo nossa atmosfera. O excesso dos chamados gases de efeito estufa está gerando mudanças climáticas que produzem um número maior de fenômenos meteorológicos extremos, como secas e inundações.
Descobrir como podemos reduzir nossas emissões de dióxido de carbono (CO2) e outros gases nocivos é um dos objetivos da COP26, a conferência das Nações Unidas sobre clima, que acontece na cidade escocesa de Glasgow.
Mas enquanto políticos e cientistas debatem como reduzir a queima de combustíveis fósseis e outras atividades poluentes, pouco se fala sobre outra grande fonte de gases de efeito estufa que é potencialmente muito mais perigosa para a nossa atmosfera. Trata-se do permafrost, uma das maiores reservas de carbono do planeta.
Os cientistas estimam que cerca de 1,5 trilhão de toneladas de carbono estão armazenados no permafrost. Ou seja, o dobro do que há atualmente na atmosfera. E a má notícia é que esse carbono está sendo liberado na atmosfera, na forma de CO2 e metano, a uma velocidade nunca vista antes na história da humanidade.
Na verdade, especialistas que estudam o permafrost afirmam que hoje ele emite mais carbono do que absorve, passando de reservatório de carbono a fonte de poluição. E isso faz dele uma das maiores ameaças à nossa atmosfera.

O que é o permafrost
É uma camada do subsolo da crosta terrestre que está permanentemente congelada — daí seu nome — em algumas das regiões mais frias do mundo.
Fica debaixo de uma camada mais fina de vegetação e terra, que os especialistas chamam de "camada ativa", que congela quando a neve ou o gelo estão no topo e derrete quando está mais quente. Esta camada protege o permafrost, que é composto de terra, rochas, areia e matéria orgânica (restos de plantas e animais), unidos por gelo. É nesses restos orgânicos que é capturado o carbono que, congelado no subsolo, é inofensivo, mas se liberado em grandes quantidades pode se tornar uma das principais fontes de poluição do planeta.
Julian Murton, professor de Ciência do Permafrost na Universidade de Sussex, explicou à BBC News Mundo (serviço de notícias em espanhol da BBC), que — dependendo das condições da superfície — o carbono pode ser liberado como CO2 ou como metano, que é "30 vezes mais poderoso como gás de efeito estufa".
Embora qualquer camada de subsolo que permaneça congelada por pelo menos dois anos já seja tecnicamente considerada permafrost, Murton observa que "grandes extensões foram criadas durante as eras glaciais."
Este permafrost mais antigo, que tem centenas de milhares de anos, é o mais espesso e profundo, podendo se estender por até 1,5 mil metros abaixo da superfície. Em contrapartida, o permafrost mais recente costuma ter apenas alguns centímetros de profundidade.

Localização
A maior parte está localizada no hemisfério norte, onde estima-se que quase um quarto dos solos tenham permafrost. 
Ele se concentra principalmente na região do Ártico, sobretudo em partes da Rússia (Sibéria), Estados Unidos (Alasca), Canadá e Dinamarca (Groenlândia).
Além do Ártico, ele também é encontrado no planalto tibetano e em regiões de grande altitude, como as Montanhas Rochosas. No hemisfério sul, há muito menos permafrost do que no norte, porque há mais oceano e menos terra.
Embora os cientistas suspeitem que deve haver terra congelada debaixo da enorme camada de gelo da Antártida, ela é profunda demais para se comprovar. Sabe-se que há permafrost nas pequenas partes do continente branco onde há solo descoberto.
Também existe nas regiões austrais mais altas, como os Andes, na América do Sul, e os Alpes do Sul, na Nova Zelândia.
Um estudo publicado pelo Departamento de Geografia da Universidade de Zurique, na Suíça, estimou em 2012 que, se todas as áreas de permafrost do mundo fossem somadas, elas somariam cerca de 22 milhões de quilômetros quadrados.

Por que está liberando carbono
Basicamente porque o aquecimento global está aumentando as temperaturas em todo o planeta, mas ainda mais na área do Ártico, que está esquentando cerca de três vezes mais rápido do que o resto da Terra. O aquecimento global também está tornando o clima do Ártico mais úmido, explica o professor Murton.
Quando o permafrost está em seu estado natural, ele atua como o refrigerador da Terra, mantendo os resíduos de carbono orgânico congelados e secos. Assim não geram nenhum dano ao meio ambiente.
Mas, da mesma forma que os alimentos começam a apodrecer quando tiramos do freezer, à medida que o calor e as chuvas derretem essa camada congelada de terra, os micróbios começam a decompor os restos orgânicos, liberando dióxido de carbono e metano na atmosfera. Mas o dano não termina por aí.
Os gases de efeito estufa liberados fazem com que as temperaturas aumentem ainda mais, o que, por sua vez, gera mais derretimento. É o que os cientistas chamam de "ciclo de feedback" e isso está amplificando os danos do degelo.
Mas apesar da grande ameaça potencial representada pelo derretimento do permafrost — mesmo que apenas parte do CO2 e metano retidos fosse liberada, ainda assim isso poderia ser catastrófico —, o fato é que as projeções sobre as mudanças climáticas não levam esse fenômeno em consideração.
O motivo, explica Murton, é que é muito difícil projetar como o aquecimento global impactará essa camada subterrânea.
"O aquecimento do clima está acontecendo na atmosfera, e o permafrost é subterrâneo. Ambos são separados por uma camada complexa, que alguns chamam de amortecedor, formada por vegetação — por exemplo, tundra — neve, matéria orgânica e água", explica.
"Essa camada amortecedora muda constantemente, dia a dia, mês a mês e ano a ano. Com as mudanças climáticas, vai mudando a vegetação, a quantidade de neve... O vínculo entre o ar e a terra é muito complexo e mutável", completa.
Além disso, o fato de que o permafrost está localizado em algumas das partes mais remotas e frias do mundo complica seu estudo.
Nesse sentido, muitas das medições realizadas utilizam imagens de satélite que podem detectar mudanças na temperatura da superfície.
"Estamos vendo evidências de um degelo extenso do permafrost próximo à superfície", diz o especialista britânico, embora deixe claro que a variabilidade constante torne difícil medir esta redução.
Um estudo liderado pela cientista britânica Sarah Chadburn em 2017 determinou que se a temperatura da atmosfera aumentar 2 °C em comparação com a era pré-industrial — hoje está quase 1,2 °C mais quente — 6,5 milhões de km2 de permafrost irão desaparecer, ou seja 30% do total.
Se o mundo não chegar a um acordo para deixar de liberar gases de efeito estufa, e a temperatura continuar subindo no ritmo atual, perderíamos 70%, diz a projeção.
Ainda assim, Murton se mostra otimista.
"Não sou um cientista especialista em carbono, mas estudei o descongelamento do permafrost como geólogo por 30 anos, e se há algo que acho óbvio nesse processo é que ele é reversível", diz ele. "Quando o permafrost descongela, muitas vezes se formam depressões, e o permafrost cai por uma encosta e é soterrado por sedimentos. É muito comum que essas depressões se estabilizem depois de um tempo e a vegetação cresça em cima, fazendo com que o permafrost não fique mais exposto". "Não acho que o ciclo de feedback seja inevitável", acrescenta.
O especialista também destaca que o permafrost mais antigo e profundo da Terra já sobreviveu a períodos ainda mais quentes do que o atual. "Esse permafrost espesso, velho e congelado continuará ali em 100 anos, em 500 anos e certamente mais além", prevê.

domingo, 7 de novembro de 2021

Os aditivos químicos presentes em 4 de cada 5 alimentos vendidos nos mercados do Brasil

Link para matéria completa: https://www.bbc.com/portuguese/geral-59082513

Resumo: A nutricionista Vanessa Montera investigou em seu estudo como esses aditivos são usados pela indústria no Brasil.
Esse trabalho foi sua tese de doutorado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e  foi publicado no periódico Food and Function, da Sociedade Real de Química, do Reino Unido.
A nutricionista analisou uma base de dados elaborada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor a partir da visita a dez lojas das cinco maiores redes de supermercado do país em duas cidades, Salvador e São Paulo.
Todos os produtos embalados tiveram seus rótulos fotografados. De cerca de 14 mil itens, foram excluídos os que estavam duplicados, as águas engarrafadas e aqueles que não tinham informações nutricionais nas embalagens. Restaram 9.856 alimentos, que foram divididos em 25 categorias.
Em seguida, foram verificados os ingredientes de cada um deles. A cientista concluiu que 79,4% tinham ao menos um aditivo.
Mas isso conta apenas uma parte da história, porque a minoria (11,6%) tinha um aditivo só, enquanto 19,8% tinham dois ou três, 23,2% tinham quatro ou cinco e 24,8% — a maior parcela do total — tinham seis ou mais.
Os produtos com mais aditivos foram as bebidas de fruta saborizadas (com teor de suco abaixo de 30% e pós e concentrados para preparo de refrescos). Nesses produtos, em média, os aditivos representavam 79,7% do número total de ingredientes listados.
Também se destacaram refrigerantes (74,5%), outras bebidas (57,3%) — tais como aquelas à base de soja, chás prontos para consumo, bebidas para desportistas, leite de coco —, produtos lácteos não adoçados (51,1%), néctares (49,7%), produtos lácteos adoçados (45,6%) e doces e sobremesas (45,4%).
Bebidas de fruta, refrigerantes e outros produtos semelhantes são o que têm mais aditivos, de acordo com o estudo
Entre os cinco aditivos mais usados, quatro eram do tipo cosmético — a exceção foram os conservadores, que fazem com que os alimentos durem mais tempo.
Os aromatizantes, que dão cheiro a um produto, foram de longe o aditivo mais comum. Estavam em 47,1% dos produtos.
Depois, vieram os conservadores (28,9%), os corantes (27,8%; conferem cor à comida), os estabilizantes (27,6%; mantêm a dispersão de componentes) e os emulsificantes (19,4%; mantêm uma mistura).
"Os conservadores têm um propósito, porque a indústria precisa fazer com que esses produtos possam ficar mais tempo na prateleira, mas os aditivos cosméticos só servem para deixar o pão mais fofinho, fazer o iogurte ficar rosa, deixar o creme de leite mais branco. Seu único propósito é tornar o produto mais atraente para o consumidor e, por isso, não são estritamente necessários", avalia Montera.
A nutricionista argumenta que sua pesquisa mostra que a indústria de alimentos está pesando a mão no uso desses ingredientes.
"Tinha um produto que tinha um umectante [que previne a perda de umidade] e um antiumectante [que impede a absorção de umidade]. Qual é o sentido disso?", questiona.

A Ciência ainda é inconclusiva sobre se os aditivos causam ou não prejuízos à saúde.
Há estudos que apontam indícios de que seu consumo por pode estar ligado a distúrbios de comportamento, transtornos mentais, alergias, alterações no metabolismo do corpo, obesidade e câncer.
Existe ainda a preocupação com o fato de os ultraprocessados acostumarem nosso paladar a um excesso de certos ingredientes, como sódio e açúcar, tornando mais difícil adquirir o gosto pelos alimentos in natura, que são fontes de nutrientes.
A indústria de alimentos diz que os aditivos são importantes para garantir a segurança e o valor nutricional dos alimentos e que não há por que se preocupar.
A Associação Brasileira da Indústria e Comércio de Ingredientes e Aditivos para Alimentos disse à BBC News Brasil que o número de aditivos na composição de um produto "não tem nenhuma relação" com o alimento ser saudável ou não.
"A quantidade máxima permitida leva em conta a interação entre os aditivos em todas as categorias de alimentos, bem como a ingestão diária aceitável, com base no perfil alimentar da população brasileira", declarou a entidade.
Por sua vez, a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos disse à reportagem que os aditivos são usados em "pouquíssimas quantidades" e controlados rigorosamente.
"Não há evidências que demonstrem que a combinação de aditivos num mesmo alimento possa oferecer riscos à saúde humana", afirmou a associação.
Um dos motivos é que essas pesquisas quase não são feitas, argumenta Daniela Canella.
Indústria de alimentos diz não haver estudos que apontem prejuízos à saúde por causa dos aditivos
"Não há estudos no Brasil e existem pouquíssimos no mundo que analisam os aditivos somados, isso normalmente é feito com cada um deles sozinho. É possível que o efeito cumulativo deles não seja seguro", afirma a nutricionista.
Vanessa Montera aponta outros problemas. De acordo com a pesquisadora, a maioria das pesquisas, que são feitas pela própria indústria, analisam apenas se os aditivos são tóxicos ou causam mutações nas células e não investigam os prejuízos que podem causar ao metabolismo, ou seja, ao funcionamento do corpo.
"Tem alguns estudos que apontam efeitos preocupantes, mas realmente não é nada que nos faça bater o martelo. Mas, ainda assim, deveria ser adotado o princípio da precaução, porque, da mesma forma que não dá pra dizer com 100% de certeza que são prejudiciais, também não dá pra garantir que não são", diz a cientista.
Além disso, os estudos são realizados majoritariamente em animais, explicam os especialistas. Não seria ético fazer pesquisas dos efeitos em humanos, dando aditivos às pessoas para ver o que acontece.
A saída, explica Canella, é fazer os chamados estudos observacionais, em que se acompanha um grupo de pessoas por um tempo e se analisam seus hábitos e estilo de vida e os problemas de saúde para ver se há alguma correlação.
"É difícil fazer estudos assim porque sempre pode ter havido outra influência. Pode ter sido a poluição, e não o aditivo, que causou uma doença, por exemplo. Por isso, o nível de evidências nunca vai ser o ideal, o que é uma maravilha para a indústria, que sempre vai poder dizer que não dá pra estabelecer uma relação de causa e consequência, e é verdade", diz a pesquisadora da USP.

Anvisa vai rever regras de aditivos
Os aditivos devem ser listados entre os ingredientes informados nos rótulos
Ter mais aditivos é sinal de pior qualidade porque essas substâncias são usadas muitas vezes para substituir ingredientes naturais.
Em tese, por exemplo, uma empresa poderia usar morangos de verdade para deixar o iogurte rosa, mas morangos são mais caros do que um corante.
Os aditivos também servem para "maquiar" os produtos ultraprocessados, diz Canella, tornando seu aspecto, textura e gosto aceitáveis.
A nutricionista defende que cabe ao governo brasileiro exigir padrões de qualidade melhores das fabricantes de alimentos.
"Os países têm legislações mais e menos rigorosas. Se em um lugar você pode usar matéria-prima de pior qualidade, esse país se torna um refugo da indústria. Se dá pra produzir mais barato e a legislação não barra, por que uma empresa vai ter mais despesa e menos lucro?", questiona Canella.
Também seria bom que os rótulos informassem melhor sobre esses ingredientes, indicando sua quantidade, por exemplo, acrescenta Montera.
O Brasil terá uma oportunidade de aprimorar suas regras para os aditivos. Está prevista na agenda da Anvisa para o período entre 2021 e 2023 a modernização das regras e procedimentos para autorização do uso dos aditivos em alimentos.
Mas, questionada sobre esse assunto, a agência disse à BBC News Brasil que não iria comentar.

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Fonte de proteínas e colágeno, águas-vivas são usadas na alimentação após congelamento em nitrogênio

Link para matéria completa: https://g1.globo.com/ciencia/noticia/2021/11/03/fonte-de-proteinas-e-colageno-aguas-vivas-sao-usadas-na-alimentacao-apos-congelamento-em-nitrogenio.ghtml

Resumo: A repórter Diana Piñeros viajou para o o sul da Itália, perto de Nápoles, para experimentar uma iguaria da região: águas-vivas. Segundo Antonella Leone, biotecnóloga da "Go Jelly", águas-vivas são ricas em proteínas e colágenos. Mas o processo para torná-las comestíveis não é fácil. Primeiro, elas devem ser congeladas em nitrogênio líquido num laboratório para que todas as toxinas sejam removidas. Por isso, ainda é difícil encontrar restaurantes com águas-vivas nos cardápios europeus, mas alguns restaurantes já se dedicam a este nicho.
Confira o vídeo no link acima.

Outra matéria sobre o tema: 

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Elefantes nascem sem presas em Moçambique e mudança é resposta evolutiva à caça ilegal

Links para texto completo:

https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/elefantes-nascem-sem-presas-em-mocambique-e-mudanca-e-resposta-evolutiva-a-caca-ilegal/

https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2021/11/caca-ao-marfim-afeta-evolucao-e-faz-elefante-sem-presa-virar-maioria-em-mocambique.shtml

Resumo: As presas de um elefante estão entre suas características definidoras – ajudam o animal a levantar galhos pesados, derrubar árvores, retirar cascas, lutar e cavar buracos para buscar água e minerais.
Mas uma proporção crescente de elefantes fêmeas no Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique, nasceu sem estas ferramentas cruciais – e os cientistas acreditam que seja uma resposta evolutiva à matança brutal de elefantes por suas presas de marfim durante a guerra civil de 15 anos do país.
Especialistas em elefantes que trabalhavam no parque começaram a notar o fenômeno após o fim da guerra, em 1992. Dados coletados em campo e análises de vídeos antigos do parque descobriram que a proporção de elefantes fêmeas sem presas aumentou mais do que três vezes entre 1972 e 2000.
Este foi um período durante o qual a população de elefantes caiu de cerca de 2 mil para cerca de 250 animais, disse Ryan Long, professor associado de ciências da vida selvagem na Universidade de Idaho.
“Durante a guerra, a Gorongosa era essencialmente o centro geográfico do conflito”, disse Long em uma entrevista por e-mail.
“Como resultado, havia um grande número de soldados na área e muita motivação associada para matar elefantes e vender o marfim de suas presas para comprar armas e munições. O nível de caça ilegal foi muito intenso”, completou.

Assinatura genética
Os cientistas agora têm uma compreensão melhor da base genética dessa ausência de presas e por quais motivos ela parece afetar apenas as fêmeas destes animais, de acordo com um estudo publicado na revista Science nesta quinta-feira (20/10/2021).
A análise mostrou que as fêmeas sem presas tinham cinco vezes mais probabilidade de sobreviver durante um período de 28 anos do que animais com presas, portanto, era muito improvável que a adaptação fosse uma ocorrência casual.
A ausência de presas ocorre naturalmente – e apenas em fêmeas – mesmo na ausência de uma prática de caça furtiva, mas geralmente apenas em uma pequena minoria de elefantes.
Na Gorongosa, na década de 1970, 18,5% das elefantes fêmeas não tinham presas, enquanto três décadas mais tarde 51% tinham as presas de marfim.
“A evolução é simplesmente uma mudança nas características hereditárias dentro de uma população ao longo de gerações sucessivas e, com base nos resultados do nosso estudo, a mudança para a ausência de presas entre as elefantes fêmeas na Gorongosa encaixa-se perfeitamente nesta definição”, disse Long, um autor do estudo.

(Este texto é uma tradução. Para ler o original, em inglês, clique aqui)