sexta-feira, 19 de abril de 2024

Relatório identifica 476 espécies exóticas invasoras no Brasil (com questões ao final)

Revista Pesquisa Fapesp - Sarah Schmidt - Edição 338 - abr. 2024

Link para texto completo: https://revistapesquisa.fapesp.br/relatorio-identifica-476-especies-exoticas-invasoras-no-brasil/

Resumo: Há 15 anos, quem visitava o Parque Natural Municipal das Dunas da Lagoa da Conceição, em Florianópolis (SC), encontrava muitos pinheiros (Pinus spp.) espalhados pela paisagem arenosa. O cenário, apesar de belo, representava um problema ecológico: essas árvores, nativas da América do Norte, são umas das principais espécies exóticas invasoras do Brasil. Elas se dispersam facilmente e, naquela área de restinga, consomem muita água, afetam as propriedades do solo e prejudicam a vegetação nativa, que não se adapta à sua sombra.


Para contornar o problema, desde 2010 um programa conta com a ajuda de voluntários que cortaram as árvores do local e hoje monitoram e retiram novas mudas. “Conseguimos eliminar cerca de 420 mil pínus que invadiam o parque”, conta a bióloga Michele Dechoum, docente da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), coordenadora do projeto. “Agora, temos feito um trabalho de conscientização com os donos das propriedades do entorno, onde ainda há pinheiros, e suas sementes eventualmente ainda se infiltram no parque”, complementa. O programa é fruto de uma parceria da UFSC com o Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental, organização não governamental com sede na capital catarinense.


Apesar de ter um importante valor comercial para a produção de madeira e de celulose, o pínus pode se tornar uma ameaça quando não controlado dentro de sua área de cultivo ou se plantado sem planejamento. Trata-se de uma das 476 espécies exóticas invasoras identificadas no país – 268 animais e 208 plantas e algas (ver infográfico) –, segundo relatório temático lançado no início de março pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES). Boa parte delas tem valor econômico e foi introduzida para criação de animais, silvicultura, aquicultura, por meio do comércio ilegal de bichos de estimação ou pelo mercado de plantas ornamentais. Há ainda aquelas que chegaram de maneira acidental.


O dano não é apenas ambiental. De acordo com o relatório da BPBES, um grupo de 16 delas causou prejuízos de até US$ 105 bilhões entre 1984 e 2019 para a economia brasileira, uma média de US$ 3 bilhões por ano em setores como agricultura, exploração comercial de árvores e saúde. Um sumário para tomadores de decisão foi lançado em conjunto com o relatório.

A proliferação de espécies invasoras é uma das cinco principais causas de perda de biodiversidade no país, mas o problema é menos lembrado do que fatores como mudanças climáticas, perda de hábitat, poluição e exploração incorreta de recursos naturais. Segundo o documento, a tendência é de que as invasões aumentem de 20% a 30% até o final do século. “Ainda não existe uma lista nacional oficial de espécies exóticas invasoras. Procuramos contribuir para preencher essa lacuna e ajudar na formulação de políticas públicas”, observa Dechoum, uma das coordenadoras do levantamento. O relatório foi elaborado por 100 pesquisadores, entre autores, colaboradores e revisores de instituições de pesquisa, órgãos públicos e terceiro setor.

Muitas das espécies listadas já estão incorporadas ao dia a dia dos brasileiros. São plantas ornamentais que enfeitam jardins; árvores que fazem sombras nas ruas, como as acácias australianas (Acacia mangium e A. auriculiformis) e as jaqueiras; além de animais presentes no cardápio brasileiro, como as tilápias, que quando escapam dos criadouros podem se tornar dominantes em lagos e lagoas, e os tucunarés. Animais domésticos, como cães e gatos, também estão na lista – quando abandonados ou deixados soltos, mesmo tendo donos, podem se tornar predadores em parques e florestas urbanas. É considerada invasora toda espécie que esteja fora de sua área de distribuição natural e que se prolifere com facilidade a ponto de prejudicar a sobrevivência de espécies nativas.

O mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei), por exemplo, molusco comum na China, chegou ao país na água de lastro dos navios e hoje invade hidrelétricas, estações de tratamento de água e fazendas de aquicultura, causando prejuízos econômicos. Já as espécies conhecidas como coral-sol (Tubastraea coccinea e T. tagusensis) são um dos principais problemas nos ecossistemas marinhos. Originárias do oceano Pacífico, instalam-se em recifes e costões rochosos e têm alto potencial de invasão: suas taxas de crescimento são de três a quatro vezes maiores que as dos corais nativos brasileiros. Elas já se espalharam ao longo de 3 mil quilômetros (km) entre o litoral de Santa Catarina e do Ceará, trazidas principalmente por plataformas de óleo e gás, mais suscetíveis às bioincrustações.

Nem as áreas de proteção estão livres: cerca de 30% das Unidades de Conservação do país têm registros de espécies invasoras, a maioria delas localizada na Mata Atlântica. “Nenhum local está imune, mas áreas degradadas ou com alta circulação de pessoas, terras cultivadas, represas, reservatórios, portos e canais têm muito mais espécies introduzidas do que as conservadas”, observa a bióloga Andrea Junqueira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), uma das coordenadoras do relatório.

No relatório brasileiro, os pesquisadores conseguiram reunir estudos de impacto sobre 239 das 476 espécies invasoras identificadas no país e concluíram que elas causaram mais de mil impactos negativos e apenas 33 positivos. As espécies que mais causaram problemas foram as introduzidas de maneira intencional, muitas delas ligadas a alguma atividade econômica.


Apesar de a disseminação dessas espécies ser considerada crime, há casos em que elas escapam para o ambiente por negligência. O caracol-gigante-africano (Lissachatina fulica) foi trazido ao país para ser criado e comercializado como escargô (caracol comestível), mas, com a pouca demanda, foi solto no ambiente e espalhou-se pelo país. Hospedeiro de parasitas que podem prejudicar a saúde humana e de animais domésticos, eles ainda disputam alimentos com os moluscos nativos e eliminam brotos de plantas.

O biólogo Mário Orsi, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), observa que os escapes e as solturas de peixes em água doce são os principais problemas enfrentados nos ecossistemas brasileiros. Segundo ele, além da tilápia, a preocupação do momento é com o panga (Pangasianodon hypophthalmus), um peixe similar ao bagre. Originário da Ásia, onde é cultivado para alimentação, chega a pesar 35 quilogramas (kg) e tem potencial para dominar o ambiente em que for introduzido. “Muitos municípios estão legalizando sua criação em águas públicas, em tanques-rede, que são sistemas com vários casos de escapes reportados, como também é o caso das tilápias”, diz. Segundo Orsi, o ideal é criar essas espécies exóticas invasoras em tanques escavados na terra ou em sistemas com mais tecnologia e isolados dos cursos d’água.


Como a introdução de muitas dessas espécies está ligada a sistemas produtivos, os pesquisadores alertam que é preciso estabelecer ações de prevenção no licenciamento desses locais, inclusive com propostas de manejo e zoneamento ambiental. Para isso, destaca Junqueira, da UFRJ, o país já dispõe de subsídios e normas legais que abarcam a questão das espécies exóticas invasoras, inclusive nos níveis estaduais e municipais.

“Nosso maior desafio é criar sistemas de prevenção, monitoramento e detecção precoce do problema”, observa Dechoum. O tempo para detecção e ação depende, também, do tipo de espécie. O peixe-leão (Pterois volitans), por exemplo, de origem indo-asiática, que tem alta capacidade de predar espécies nativas, chegou ao país em 2020, vindo do Caribe. Em três anos, espalhou-se por mais 2.700 km da costa brasileira. Perceber como as espécies se comportam em ambientes similares pode ajudar num plano de ação precoce. Investir na formação de pessoas que saibam trabalhar com manejo adequado dessas espécies, em órgãos de administração municipais e estaduais, é outra ação essencial, segundo os pesquisadores.

Mostrar alternativas de substituição das espécies invasoras para setores com valor produtivo também é uma ação importante. Em fevereiro, um guia ilustrado chamado AlterNativas foi lançado com o objetivo de ajudar paisagistas e demais profissionais da área a reconhecer 37 plantas exóticas do litoral de Santa Catarina e substituí-las por 93 nativas da região. Na mesma linha, a botânica Daniela Zappi, da Universidade de Brasília (UnB), elaborou uma lista com 49 espécies de árvores nativas da Amazônia que pudessem reforçar a arborização urbana na região, onde é comum ver muitas espécies exóticas como ipês-rosa (Tabebuia rosea) e mangueiras (Mangifera indica).

Outra medida é disponibilizar documentos que resumam evidências científicas para formuladores de políticas públicas. “Ter um sumário para tomadores de decisão pode ajudar a jogar luz nessas degradações silenciosas”, avalia a bióloga Isabel Belloni Schmidt, da UnB, que não participou da elaboração do relatório. “Nem sempre é verdadeira a impressão de que, se há uma paisagem repleta de verde, está tudo bem. Há lugares aparentemente bem conservados cuja biodiversidade está sendo destruída”, completa.

Este texto foi originalmente publicado por Pesquisa FAPESP de acordo com a  licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. 


QUESTÕES

01. Entre as razões mais comuns para uma espécie exótica animal tornar-se invasora, podemos citar:

A) Grande resistência do meio ambiente em relação a tal espécie.
B) Ausência de predadores, competidores ou parasitas no ambiente ocupado.
C) Inabilidade em competir por recursos com as espécies nativas do novo ambiente.
D) Estabelecimento de relações de protocooperação ou mutualismo com outras espécies.
E) Dependência exclusiva de um único tipo de alimento.


02. Analise as duas informações seguintes sobre espécies exóticas invasoras:

"O mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei), molusco comum na China, chegou ao país na água de lastro dos navios e hoje invade hidrelétricas, estações de tratamento de água e fazendas de aquicultura, causando prejuízos econômicos."

"O caracol-gigante-africano (Lissachatina fulica) foi trazido ao país para ser criado e comercializado como escargô (caracol comestível), mas, com a pouca demanda, foi solto no ambiente e espalhou-se pelo país."

O mexilhão-dourado e o caracol-gigante-africano têm em comum:

A) Sistema circulatório fechado, com presença de capilares e pigmentos no sangue.
B) Rádula, estrutura presente no tubo digestivo para realizar a trituração do alimento.
C) Esqueleto externo formado por concha predominantemente calcária.
D) Excreção por meio de células-flama ligadas a ductos excretores.
E) Respiração por meio de um pulmão simples situado na cavidade do manto.

03. "Nem as áreas de proteção estão livres: cerca de 30% das Unidades de Conservação do país têm registros de espécies invasoras, a maioria delas localizada na Mata Atlântica. “Nenhum local está imune, mas áreas degradadas ou com alta circulação de pessoas, terras cultivadas, represas, reservatórios, portos e canais têm muito mais espécies introduzidas do que as conservadas”, observa a bióloga Andrea Junqueira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)."

É um exemplo de Unidade de Conservação de Proteção Integral:

A) APA (Área de Proteção Ambiental).
B) APP (Área de Preservação Permanente).
C) RL (Reserva Legal).
D) Parques Nacionais e Parques Estaduais.
E) Terras Indígenas (Reservas Indígenas).

O GABARITO ENCONTRA-SE AO FINAL DESTA PÁGINA...





















GABARITO: 01.B   02.C   03.D

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Mercúrio do garimpo causa danos neurológicos aos Yanomami (com questões ao final)

Jornal da USP - Texto: Gabriele Mello - Arte: Diego Facundini

Link para matéria completa: https://jornal.usp.br/ciencias/mercurio-do-garimpo-causa-danos-neurologicos-aos-yanomami/

Resumo: Estudo apontou que todos os Yanomami de nove aldeias assediadas pelo garimpo foram contaminados; neuropatia periférica e desempenho cognitivo reduzido são principais problemas.

A crise sanitária que atinge a terra indígena Yanomami ganhou destaque nos últimos anos, relacionada ao avanço do garimpo ilegal, que tem levado fome, desnutrição, doenças infecciosas e a contaminação por mercúrio para essa população. Em parceria com a Fiocruz, o Departamento de Neurologia do Hospital das Clínicas (HC) da USP avaliou os efeitos neurológicos da contaminação em longo prazo dos indígenas do Alto Rio Mucajaí, em Roraima, por metilmercúrio. O estudo mostrou que neuropatia periférica e desempenho cognitivo reduzido foram as principais consequências neurológicas encontradas.

A neuropatia periférica compreende doenças que afetam os nervos ao longo do corpo, alterando a força e a sensibilidade nos braços, mãos, pernas e pés; sendo a causa mais conhecida, a diabete. Já o desempenho cognitivo reduzido afeta outra série de ações do dia a dia, como memória, aprendizado, linguagem e concentração.

A neuropatia periférica foi encontrada em 30% dos indígenas que participaram do estudo, enquanto o desempenho cognitivo reduzido, em 35% deles. No entanto, entre os 10% que apresentaram níveis de metilmercúrio no organismo acima de 6 microgramas por grama de cabelo – valor equivalente a seis vezes o limite recomendado pela agência de proteção ambiental dos Estados Unidos –, mais de 75% das pessoas apresentaram neuropatia periférica, e mais de 90% tinham o desempenho cognitivo reduzido.

“Não é uma situação em que você vai ter um problema amanhã, um grande número de intoxicados incapacitados. Mas nada impede de ter um grande grau de incapacidade acumulando ao longo dos anos”, comenta Gabriel Kubota, coordenador do Centro de Dor do no HC e um dos autores da publicação na revista Toxics, que explica que a falta de acesso ao sistema de saúde é um agravante da situação.

A contaminação por metilmercúrio

O estudo, liderado pela Fiocruz, mostrou que todos os indígenas Yanomami analisados estavam contaminados por metilmercúrio. Esse tipo de contaminação é conhecida como ambiental. “Nessa situação, o mercúrio cai no ambiente e reage com as moléculas, formando compostos que acabam entrando na cadeia alimentar e sendo ingeridos pelos seres vivos na região”, explica Kubota. A forma mais segura e eficaz de medir os níveis de metilmercúrio acumulado no organismo ao longo do tempo é através do cabelo.

Paulo Basta, pesquisador do Fiocruz e também autor da pesquisa, que atua na área de saúde indígena há mais de 25 anos, explica que “nos últimos anos a região do Alto Rio Mucajaí foi extremamente invadida por garimpeiros”, no entanto, a exposição dos indígenas ao mercúrio teve início na década de 1980, levando a mais de 40 anos de exposição. “A crise sanitária experienciada no território Yanomami em 2022 foi pior que a vivenciada no final dos anos 1980 por causa do potencial devastador maior do garimpo”, completa.


“A gente tem dados nesse sentido [de análise de contaminação de mercúrio] desde a metade da década de 1990, mas continua assim”, sinaliza Kubota. “[O estudo] coloca mais uma pedrinha, mostrando para a gente que, talvez, as coisas não mudaram tanto”, e complementa que “com isso [o estudo], a gente consegue trazer dados para que seja discutido em um nível maior quais as próximas mudanças que poderiam ser feitas para regulamentar e evitar que continue um processo que vai trazer consequências cada vez maiores para essa população”.

Yanomamis do alto rio Mucajaí sofrem com ação do garimpo

O artigo feito em colaboração com o Departamento de Neurologia do HC é parte de um estudo realizado pelo grupo de pesquisa Ambiente, Diversidade e Saúde, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), que gerou o relatório técnico Impacto do mercúrio em áreas protegidas e povos da floresta na Amazônia: uma abordagem integrada saúde-ambiente, realizado em parceria com a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e com apoio do Instituto Socioambiental (ISA).

A pesquisa, que acaba de ser divulgada, surgiu por intermédio do pedido da Texoli Associação Ninam do Estado de Roraima, através de carta à Fiocruz, em outubro de 2021. Na carta, a associação demonstra sua preocupação com a presença dos garimpeiros e que, sabendo que a Fiocruz já tinha realizado trabalhos semelhantes, pede que analisem a presença de mercúrio entre os indígenas Ninam, com objetivo de saber se as pessoas e o ambiente estavam contaminados. As visitas, com intuito de coletar informações, começaram em outubro de 2022.

Contando com uma série de recomendações, o relatório evidencia dados como a falta de acesso a serviços de saúde e os efeitos do garimpo na região. Entre as crianças, apenas 15% está com a vacinação em dia, e a contaminação por mercúrio atinge também os peixes e os sedimentos dos rios da região, além de toda a população analisada.

“Não é a primeira vez que a Fiocruz faz uma pesquisa na terra Yanomami e comprova que nossos parentes estão contaminados pelo mercúrio. Isso é muito grave!”, diz o vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), Dário Vitório Kopenawa em entrevista ao Instituto Socioambiental de Roraima, sobre os resultados encontrados.

No relatório, além das pesquisas voltadas à contaminação do mercúrio, também constam dados sobre a saúde dos Yanomami Ninam, com informações sobre medidas antropométricas, doenças transmissíveis e crônicas, avaliações pediátricas e características sociodemográficas de 300 pessoas de nove aldeias na região do Alto Rio Mucajaí. Paulo Basta destaca que “o mercúrio é só a ponta do iceberg dos problemas relacionados ao garimpo. Nessa base [do iceberg] nós temos uma série de outros problemas. E a gente não pode perder isso de vista quando fala dos impactos do garimpo nas terras indígenas”.


QUESTÕES:

01. "Um estudo, liderado pela Fiocruz, mostrou que todos os indígenas Yanomami analisados estavam contaminados por metilmercúrio. Esse tipo de contaminação é conhecida como ambiental. Nessa situação, o mercúrio cai no ambiente e reage com as moléculas, formando compostos que acabam entrando na cadeia alimentar e sendo ingeridos pelos seres vivos na região."

O texto acima indica uma das consequências da contaminação ambiental pelo mercúrio. O conceito que pode ser relacionado ao problema descrito é:

A) Eutrofização
B) Biorremediação
C) Bioindicadores
D) Magnificação Trófica
E) Autodepuração


02. Em um estudo realizado recentemente pela FioCruz com os indígenas Yanomami Ninam (de Roraima), constatou-se que 80% dos participantes relataram já ter tido malária e 25% das crianças com menos de 11 anos tem anemia.

Considerando essas informações e seus conhecimentos, podemos afirmar:

A) A malária é uma doença causada por protozoário e que pode ser evitada pela aplicação da vacina anti-amarílica.
B) Uma forma de prevenção da malária é o combate aos hospedeiros intermediários, os mosquitos do gênero Anopheles.
C) A anemia das crianças pode ser causada por falta de ferro, proteínas ou vitamina B na alimentação.
D) A anemia pode trazer outras complicações para o indivíduo como interferir de forma a aumentar o peso corporal dos indivíduos.
E) A principal característica da malária é a ocorrência de uma febre prolongada e constante, que pode perdurar por vários dias.


03. O esquema abaixo representa o ciclo do mercúrio na natureza:


Sabendo-se que o metilmercúrio (CHHg) é o principal contaminante dos animais e dos seres humanos, podendo ser transferido ao longo da cadeia alimentar, podemos afirmar:

A) A ligação ao grupo metil favorece a maior solubilidade do mercúrio nas gorduras corporais.
B) De acordo com o ciclo apresentado o mercúrio se apresenta como Hg⁰, Hg⁺ e Hg²⁺.
C) Nos sedimentos do fundo podemos encontrar o sulfato de mercúrio.
D) O Hg, no estado de metal líquido, é facilmente absorvido pelos peixes.
E) O (CH₃)₂Hg e o C₂H₆ são classificados quimicamente como hidrocarbonetos.


04. Sabendo-se que o Hg tem número atômico (Z) = 80, podemos afirmar que o cátion Hg² tem distribuição eletrônica por níveis:

A) 2.8.18.32.18.2
B) 2.8.18.32.18
C) 2.8.18.32.16.2
D) 2.8.18.30.18.2
E) 2.8.18.32.18.4

O GABARITO ENCONTRA-SE AO FINAL DESTA PÁGINA...











GABARITO: 01.D   02.C   03.A   04. B

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Aumento de temperatura compromete fotossíntese de plantas do Cerrado (com questões ao final)

Jornal da USP - Texto: Felipe Faustino - Arte: Simone Gomes

Link para matéria completa: https://jornal.usp.br/campus-ribeirao-preto/aumento-de-temperatura-compromete-fotossintese-de-plantas-do-cerrado/

Resumo: O Cerrado, um dos biomas mais importantes do Brasil, pode enfrentar mudanças na composição da sua flora pelo aquecimento global. É o que revelam pesquisadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, que identificaram como o calor afeta a performance da fotossíntese das plantas da região.


Tony César de Sousa Oliveira, responsável pelo estudo, verificou, durante a pesquisa realizada para seu doutorado no programa de Biologia Comparada, que o aquecimento global é capaz de reduzir a eficiência da fotossíntese em espécies do Cerrado, uma vez que “as espécies de árvores estudadas têm um valor ótimo de temperatura foliar para realizar a fotossíntese muito próximo à temperatura média do ambiente”, explica o pesquisador. 

Outra questão levantada pelo estudo é que o calor começa a prejudicar a capacidade de fotossíntese de algumas plantas antes mesmo de atingir a temperatura ideal. Isso se dá principalmente pelo impacto da temperatura no funcionamento do fotossistema II (PSII), responsável por converter a energia luminosa em energia bioquímica usada no processo fotossintético. 

O estudo descobriu que a eficiência do PSII reduz pela metade quando a temperatura é semelhante ou ligeiramente superior à temperatura ambiente média local, evidenciando o impacto de temperaturas mais altas no limite da captação do carbono pelas plantas na região.

Orientador do estudo, o professor Tomas Domingues é responsável pelo Laboratório de Ecologia de Comunidades e Funcionamento de Ecossistemas (Ecoferp) da FFCLRP e adianta que os resultados acendem alertas sobre o Cerrado, que tem enfrentado aumento de temperaturas mais intenso em comparação com outros biomas brasileiros. A tendência, avalia o professor, é que “a situação deva se agravar ainda mais nos próximos 50 anos”, tornando a fotossíntese nos períodos mais quentes do dia “menos eficiente.”

Nova técnica

Para estudar a resposta à temperatura da vegetação do Cerrado, a equipe da USP de Ribeirão Preto criou uma variação do método de um ponto (OPM, na sigla em inglês para One Point Method). A versão original do OPM é uma abordagem mais rápida para estimar a “taxa máxima de atividade” da Rubisco, uma enzima responsável pelo primeiro e mais importante processo de fixação do carbono. 

Entretanto, esse método só é eficaz quando a temperatura da folha está abaixo de 30°C, o que limita o uso dessa técnica em regiões mais quentes, como no Cerrado, “onde, devido às condições climáticas, as folhas das plantas já atingem esse limiar por volta das 10 às 11 horas”.

Na nova versão do OPM, nomeada OPM-ρ, os pesquisadores adicionaram um fator de correção que considera a sensibilidade dos processos bioquímicos à variação de temperatura, o que permitiu estender o uso do método para estimar a capacidade de fotossíntese das folhas em temperaturas até 45°C. 

Com a adaptação, os pesquisadores puderam modelar a resposta à temperatura da eficiência da fotossíntese no Cerrado, observar a temperatura na qual a fotossíntese tem a sua melhor performance e em qual a eficiência fotossintética começa a diminuir.

Essas informações possibilitam o cálculo da margem de segurança térmica, que é a faixa de temperatura em que o sistema de fotossíntese ainda funciona bem em relação às temperaturas máximas ambientais, adiantam os biólogos.

O novo método e os resultados dos testes realizados pela equipe estão publicados no Journal of Experimental Botany e mostram as vantagens comparadas ao OPM original. Segundo Oliveira, esta nova abordagem deve contribuir para uma caracterização mais completa das comunidades vegetais em todo mundo, fornecendo dados para a estimativa do impacto da temperatura na vegetação global.

Biodiversidade e preservação

Ao avaliar a capacidade fotossintética de diferentes espécies, o orientador do estudo adianta que a ideia é facilitar a identificação das plantas mais vulneráveis às mudanças de temperatura e prever como a biodiversidade global pode ser afetada no futuro. Com o aumento do calor, projeta-se que, nos períodos mais quentes do dia, a fotossíntese se torne menos eficiente, causando mudanças na composição de espécies no Cerrado, com as árvores se tornando menos proeminentes que as plantas de menor porte, como gramíneas e outros arbustos. Também é possível que “facilite uma maior ocorrência de espécies invasoras”, especula o professor. 

Para os pesquisadores, o cenário alerta para a necessidade de um maior entendimento sobre o funcionamento ecológico das espécies vegetais do Cerrado. “É fundamental garantir a preservação da biodiversidade desse ecossistema, promovendo a restauração de áreas degradadas e adotando práticas de manejo sustentável”, adverte Oliveira. 

O desmatamento da vegetação nativa para atividades agropecuárias e o desrespeito às normas do Código Florestal, lembra Domingues, contribuem para agravar as mudanças climáticas e ameaçam a sobrevivência do bioma, sendo necessária a aplicação de técnicas que respeitem o equilíbrio ambiental. 

A tese de doutorado Tolerância térmica em espécies vegetais de uma savana Neotropical: explorando as dependências de temperatura da fotossíntese em um bioma diverso foi apresentada à FFCLRP dia 8 de março de 2024, com orientação de Tomas Domingues e dos professores Elmar Veenendaal e David Kleijn, do Plant Ecology and Nature Conservation Group da Wageningen University & Research, Holanda.


QUESTÕES

01. O Cerrado é um importante bioma brasileiro que se estende por várias unidades da federação. As árvores do Cerrado geralmente apresentam as características seguintes, EXCETO

A) São árvores relativamente baixas, raramente atingindo os 10 metros de altura.

B) Encontram-se espaçadas, e entre elas há gramíneas e arbustos.

C) Possuem casca grossa (súber espesso) que as protegem de incêndios.

D) Apresentam raízes bastante superficiais, para captarem rapidamente a água das chuvas.

E) Apresentam folhas coriáceas, isto é, folhas duras e mais resistentes ao ataque de herbívoros.


02. O PSII (fotossistema II) é um complexo de substâncias químicas localizadas no cloroplasto de plantas e algumas algas. No cloroplasto, o PSII é encontrado especificamente

A) Na membrana externa.

B) Na membrana interna.

C) Nos tilacoides.

D) No estroma.

E) Associado ao material genético.


03. "A Rubisco é uma enzima responsável pelo primeiro e mais importante processo de fixação do carbono." A atuação da Rubisco se dá na fase ______________________ e ela pode ter sua estrutura modificada devido a ______________________ temperaturas.

As lacunas acima são melhores preenchidas por, respectivamente:

A) Escura - Baixas

B) Escura - Altas

C) Clara - Baixas

D) Clara - Altas

E) Fotoquímica - Baixas


04. "O desmatamento da vegetação nativa para atividades agropecuárias e o desrespeito às normas do Código Florestal contribuem para agravar as mudanças climáticas e ameaçam a sobrevivência do Cerrado, sendo necessária a aplicação de técnicas que respeitem o equilíbrio ambiental."

Entre as técnicas que respeitem o equilíbrio ambiental está

A) A criação de corredores ecológicos.

B) O emprego maciço de fertilizantes no solo do Cerrado.

C) A introdução de novas espécies que possam modificar as condições existentes no Cerrado.

D) A criação de inúmeros poços para utilização da água dos lençóis substerrâneos.

E) O reflorestamento com espécies resistentes como Pinus e Eucalyptus.


05. Pesquisas recentes têm demonstrado que altas temperaturas podem prejudicar a ocorrência de fotossíntese nas plantas do Cerrado. Provavelmente, tais temperaturas interferem especialmente com qual tipo de substância que participa da fotossíntese?

A) Citocromos

B) Enzimas

C) Clorofila

D) Gás Carbônico

E) Oxigênio


O GABARITO ENCONTRA-SE AO FINAL DESTA PÁGINA...
















































GABARITO: 01.D   02.C   03.B   04.A   05.B

sábado, 13 de abril de 2024

A química da ressaca (com questões ao final)

REVISTA CIÊNCIA HOJE - Abril 2024 [CH 408] Raoni Schroeder / Instituto de Química / UFRJ


Resumo: Embora o dia seguinte pareça maldição de Baco, uma nova molécula pode estar por trás das dores de cabeça provocadas pelo vinho tinto.
Durante muito tempo, os sulfitos foram considerados os grandes vilões por trás das dores de cabeça provocadas pelo consumo de vinho tinto. Eles são adicionados ao vinho como conservantes, mais especificamente por seu potencial antioxidante. De fato, muitas pessoas são sensíveis a sulfitos, principalmente quem sofre com asma. Os efeitos colaterais incluem dores de cabeça, urticária, tonturas e dificuldade respiratória. 
Porém, em artigo publicado por pesquisadores da Universidade da Califórnia, uma nova hipótese para esses efeitos indesejados foi levantada, e eis que surge uma nova vilã: a quercetina, molécula da classe dos flavonoides, que são substâncias presentes em diversos vegetais, incluindo a uva. A notícia causou alvoroço e foi disseminada pela grande mídia. Cabe, porém, um olhar mais de perto para a bioquímica envolvida nesse processo. 
A quercetina está relacionada ao metabolismo do etanol, o popular álcool, em nosso organismo. O etanol, por si, é responsável por uma série de efeitos ligados à ressaca, como desidratação, insônia e alterações nos sistemas cardiovascular e endócrino. Mas a história não para aí. 
O etanol é metabolizado no fígado, em um primeiro momento, pela atuação de uma enzima chamada álcool desidrogenase, que leva à formação de um composto tóxico, o acetaldeído, responsável pelas sensações de náuseas e dores de cabeça associadas ao consumo do álcool. Para tentar se livrar do acetaldeído, o organismo o transforma em acetato, com a atuação de uma segunda enzima, a aldeído desidrogenase. O acetato (derivado do ácido acético, aquele presente no vinagre) é inocente e pode estar associado a efeitos benéficos ao organismo humano. É aí que a nossa vilã entra na história! O que a quercetina faz é inibir a atuação da enzima aldeído desidrogenase, bloqueando o metabolismo do acetaldeído e, consequentemente, aumentando a concentração dessa substância tóxica em nosso organismo, o que leva à ressaca.
Vale ressaltar que a aldeído desidrogenase é, na verdade, uma grande família de enzimas que se diferenciam apenas por pequenas variações estruturais. Logo, suas funções vão muito além do metabolismo do acetaldeído – elas atuam na desintoxicação de nossas células, eliminando uma série de toxinas provenientes do metabolismo de fármacos, vitaminas, aminoácidos e até mesmo da ação da radiação ultravioleta. Em nossos tecidos oculares, por exemplo, encontramos altas concentrações de aldeído desidrogenases, que nos protegem dos efeitos nocivos da exposição ao sol. 
As duas isoformas da aldeído desidrogenase mais importantes para o metabolismo do acetaldeído são a ALDH1 e a ALDH2. Esta última, encontrada nas mitocôndrias, tem uma afinidade maior pelo acetaldeído e, por isso, pode convertê-lo em acetato mais rapidamente. O referido artigo relata o efeito inibitório da quercetina na ALDH2. 
O potencial de determinadas substâncias de inibir a aldeído desidrogenase era algo já conhecido pelos cientistas, sendo uma estratégia utilizada no tratamento do alcoolismo. O dissulfiram, descoberto da década de 1940, foi o primeiro fármaco aprovado para tratamento da dependência crônica de álcool e atua justamente dessa forma: pessoas que tomam o medicamento, ao consumirem bebidas alcoólicas, sentem efeitos indesejáveis em razão do acúmulo de acetaldeído no organismo.
Se você chegou até aqui na esperança de que a química possa ajudar a reduzir as dores de cabeça associadas ao consumo de vinho tinto, sinto muito. Por enquanto, a recomendação é beber menos! E também apreciar a beleza do estudo científico, não apenas por trazer uma maior compreensão de como determinadas substâncias atuam em nosso organismo, mas pelas possibilidades que ele pode abrir do ponto de vista tecnológico. Exemplo? A quercetina pode servir como base para o desenvolvimento de novos fármacos que auxiliem no tratamento do alcoolismo, com menos efeitos colaterais que aqueles associados ao dissulfiram. Além disso, compostos capazes de inibir outras isoformas da aldeído desidrogenase estão sendo estudados como alternativas para o tratamento de doenças como o câncer, a obesidade e doenças cardiovasculares.

QUESTÕES

01. A quercetina, presente na uva, é uma substância que pode potencializar a ocorrência da "ressaca" após a ingestão de vinho. Já o dissulfiram é um fármaco utilizado no tratamento da dependência crônica do álcool. Suas fórmulas encontram-se abaixo:


Comparando-se as duas substâncias, é CORRETO afirmar:
A) Ambas possuem átomos de carbono primários.
B) Ambas possuem átomos de carbono de geometria trigonal plana.
C) A combustão completa das duas substâncias origina apenas CO e HO.
D) A quercetina possui a função cetona e o dissulfuram possui a função amida.
E) A presença da função álcool na quercetina explica sua presença no vinho.

02. "Durante muito tempo, os sulfitos foram considerados os grandes vilões por trás das dores de cabeça provocadas pelo consumo de vinho tinto. Eles são adicionados ao vinho como conservantes, mais especificamente por seu potencial antioxidante."
Qual dos compostos seguintes é um sulfito e sua fórmula está escrita corretamente?
A) NaSO
B) NaSO
C) KSO
D) KSO
E) NaHSO

03. Etanol, acetaldeído e ácido acético possuem em comum: 
A) Ligação dupla carbono-oxigênio. 
B) Dois átomos de carbono em sua estrutura. 
C) Apenas um átomo de oxigênio em sua estrutura. 
D) Átomos de carbono secundário. 
E) Átomos de carbono quiral (assimétrico).


O GABARITO ENCONTRA-SE AO FINAL DESTA PÁGINA...















































GABARITO: 01.B   02.D   03.B   

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Corais: nova onda global de branqueamento já chegou ao Brasil e preocupa cientistas (com questões ao final)

Link para matéria completa: https://umsoplaneta.globo.com/biodiversidade/noticia/2024/04/11/corais-nova-onda-global-de-branqueamento-ja-chegou-ao-brasil-e-preocupa-cientistas.ghtml

Por Evanildo da Silveira, para Um Só Planeta.

Resumo: Causa principal é o El Niño, que eleva a temperatura do oceano, mas atividades humanas também estão envolvidas. BNDES lança edital de R$ 30 milhões para projetos ligados a recifes.

Depois de ocorrências registradas em 2016, 2019 e 2020, uma nova onda global de branqueamento de corais está sendo detectada em várias partes do mundo. E, ao que tudo indica, ela será mais intensa do que as anteriores. Causada pelo aquecimento das águas do mar, no Brasil ela foi observada em fevereiro, primeiro na costa do Nordeste e depois na do Rio de Janeiro. Hoje, já há registros desde o Ceará até São Paulo.


Segundo o oceanógrafo Miguel Mies, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), essa nova onda já era esperada. “Nós já sabíamos que ela iria ocorrer, porque temos dados de sensoriamento remoto em parceria com a NOAA, que é a agência de meteorologia e oceanografia norte-americana, que monitora a temperatura dos oceanos”, conta. “Nós imaginávamos que isso iria se manifestar no Brasil, como consequência do El Niño. Só estávamos esperando ver isso acontecer em campo.”

A extensão da nova onda de branqueamento está sendo mapeada por uma rede de pesquisa liderada pelo Projeto Coral Vivo, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), do qual Mies é coordenador de pesquisa. “A gravidade ainda é baixa, mas deve aumentar, visto que há previsão de elevação de temperatura”, explica o biólogo e doutor em Ecologia, Carlos Eduardo Leite Ferreira, da Universidade Federal Fluminense (UFF) e integrante da rede. “No Sudeste, especificamente em Arraial do Cabo, na semana do Carnaval, a temperatura da água chegou aos 28ºC e observamos que algumas espécies de corais em áreas rasas de praia branquearam parcialmente.”

Os corais vivem, em sua maioria, em regiões rasas tropicais. No Brasil, eles ocorrem desde o Maranhão até Santa Catarina, além das ilhas oceânicas de Abrolhos, Atol das Rocas e Fernando de Noronha. “É esperado o branqueamento este ano em todo o litoral brasileiro”, diz a oceanóloga Priscilla Teixeira Campos, coordenadora do Laboratório Interdisciplinar para Conservação da Vida (ConVida) da Universidade Federal de Sergipe (UFS). “Aqui no estado, demos o alerta em 6 de fevereiro, na primeira expedição realizada pelo nosso departamento.”

Ao pé da letra, branqueamento não seria a palavra exata para o fenômeno. Na verdade, os corais são animais invertebrados marinhos transparentes. O que dá cor a eles são as algas zooxantelas, com as quais vivem em simbiose. Elas ficam no tecido dos corais e, além da coloração, fornecem compostos orgânicos, dos quais eles se nutrem, produzidos durante a fotossíntese delas. Em troca, os animais fornecem a elas gás carbônico e nutrientes inorgânicos.

Pesquisa estima valor dos corais no Brasil para turismo e proteção costeira

Em situações de estresse, como a causada pelo aumento da temperatura do mar, por exemplo, ocorre a expulsão das zooxantelas dos tecidos dos corais ou a destruição dos pigmentos fotossintetizantes delas. “Quando isso acontece, o que conseguimos ver é o esqueleto calcário dos animais, que é branco (como os nossos ossos)”, explica Campos. “No entanto, ao perder essas algas, o coral também perde boa parte de sua fonte alimentar, então fica fraco e suscetível a doenças e até à morte.”

Mies explica que a nova onda de branqueamento dos corais está relacionado ao fenômeno El Niño Oscilação Sul (ENOS), que ocorre, tipicamente, a cada seis, sete anos. “Ele tem três fases”, explica. “Uma em que superfícies do oceano esfria, conhecida como La Niña, uma neutra, que não resfria nem esquenta, e uma em que as águas ficam mais quentes, chamada El Nino. É este último que está ocorrendo aqui e agora, já tendo se manifestado no Hemisfério Norte, e agora no Sul.

De acordo com ele, trata-se de um fenômeno natural. “O problema é que atualmente o El Niño está se comportando de uma forma diferente, por conta das mudanças climáticas causadas pelo homem”, diz. “Ele está mais forte, mais intenso e duradouro e mais frequente. Agora, em vez de seis, sete anos, ele está acontecendo a cada cinco, mais ou menos.”

Mies explica ainda que, diferentemente da atual, a onda de branqueamento de 2019, não teve relação com El Nino. “Foi um fenômeno atmosférico local, em escala continental da América do Sul, no Brasil, no lado Atlântico, que bloqueou a chegada de frentes frias e que acumulou uma quantidade de calor absurda”, diz. “O que elas têm de similaridade é que aquela foi muito forte, historicamente nunca tínhamos visto algo como aquilo no Brasil, e a atual será tão intensa ou até mais.”

Corais podem desaparecer em um mundo mais quente - mas há esperança

Para Campos, não se deve, no entanto, responsabilizar apenas o El Niño pelo branqueamento dos corais. “O aquecimento do oceano é um fator bastante estressante, sem dúvidas, apenas um ou dois graus é o suficiente para perturbar esses animais”, diz. “Mas atribuir o branqueamento apenas ao aumento da temperatura das águas, causado pelas mudanças climáticas globais, é cruzar os braços para nada ser feito diante da nossa impotência quanto à regulação do clima.”

De acordo com ela, os impactos mais severos sobre os corais são provocados pela ação humana. Entre eles, a pesquisadora cita a pesca predatória, a carcinicultura, o turismo desordenado, vazamentos de barcos a motor, resíduos sólidos e demais poluentes. “Podemos destacar também, a destruição e degradação em grande escala de hábitats naturais, a salinização do lençol freático de planícies costeiras, o despejo de efluentes com altas cargas de nutrientes, microplásticos, antibióticos e outros produtos químicos, além do escape acidental de espécies exóticas ou biotecnologicamente modificadas, que transmitem doenças aos estoques naturais”, acrescenta.

Campos inclui ainda o uso inadequado do solo, que aumenta o fluxo de sedimento; a poluição agrícola e doméstica e seus efluentes, o uso de fertilizantes e agrotóxicos, a exploração exagerada dos organismos recifais, principalmente para construção civil desde o Século XVII, além da destruição dos manguezais. “Podemos citar também como impactos antrópicos, a poluição em decorrência da instalação de projetos industriais e a exploração de petróleo”, diz. “No Nordeste, tivemos aquele grande derramamento de óleo em 2019. Não se sabe a consequência disso para esses organismos.

Além do papel que prestam para a biodiversidade marinha, os corais são fonte de recursos para o turismo, geram renda para comunidades costeiras, e ainda protegem as cidades litorâneas ricas nesse ecossistema da alta do nível do mar. Nesta semana, o BNDES lançou uma chamada permanente do Fundo Socioambiental do Banco para projetos destinados a contribuir com a recuperação e a conservação de recifes de corais rasos e bancos de corais brasileiros.

O objetivo da iniciativa de R$ 30 milhões é fortalecer a resiliência e contribuir com a diminuição de perdas e recuperação de recifes. Mas o investimento pode chegar a R$ 60 milhões, com a contrapartida dos parceiros que aderirem aos projetos. "Os recifes de corais representam para os oceanos o que as florestas tropicais representam para os continentes" disse a secretária nacional de mudança do clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Ana Prates.


QUESTÕES

01. "Os corais são animais invertebrados marinhos transparentes. O que dá cor a eles são as algas zooxantelas, com as quais vivem em simbiose. Elas ficam no tecido dos corais e, além da coloração, fornecem compostos orgânicos, dos quais eles se nutrem, produzidos durante a fotossíntese delas. Em troca, os animais fornecem a elas gás carbônico e nutrientes inorgânicos."

A relação ecológica entre os corais e as algas zooxantelas é denominada

A) Competição

B) Colônia

C) Sociedade

D) Mutualismo

E) Comensalismo


02. "De acordo com a oceanóloga Priscilla Teixeira Campos, os impactos mais severos sobre os corais são provocados pela ação humana. Entre eles, a pesquisadora cita a pesca predatória, a carcinicultura, o turismo desordenado, vazamentos de barcos a motor, resíduos sólidos e demais poluentes. 'Podemos destacar também, a destruição e degradação em grande escala de hábitats naturais, a salinização do lençol freático de planícies costeiras, o despejo de efluentes com altas cargas de nutrientes, microplásticos, antibióticos e outros produtos químicos, além do escape acidental de espécies exóticas ou biotecnologicamente modificadas, que transmitem doenças aos estoques naturais', acrescenta.

As espécies exóticas, citadas acima são

A) organismos que são nativos de um determinado ecossistema.

B) animais de estimação que são raros em uma região específica.

C) plantas ou animais que foram introduzidos em um novo ambiente onde não são nativos.

D) seres vivos que migraram naturalmente para novas áreas geográficas.

E) organismos geneticamente modificados para resistir a condições adversas.


03. "Microplásticos são pequenas partículas de plástico comumente definidas como tendo menos de 5 milímetros de tamanho. Eles podem ser originados de várias fontes, incluindo a degradação de plásticos maiores, abrasão de produtos plásticos e até mesmo diretamente em produtos de cuidados pessoais, como esfoliantes faciais. Essas partículas são amplamente encontradas em ambientes marinhos e terrestres, representando uma preocupação ambiental significativa devido aos seus efeitos adversos sobre a vida selvagem e potencial impacto na saúde humana." 

Do ponto de vista química os plásticos geralmente são

A) polihidroxialdeídos e polihidroxicetonas.

B) sais inorgânicos cristalizados.

C) hidrocarbonetos aromáticos solúveis em água.

D) polímeros orgânicos artificiais.

E) misturas de fosfolípides e proteínas.


04. "Para a oceanóloga Priscilla Teixeira Campos, não se deve, no entanto, responsabilizar apenas o El Niño pelo branqueamento dos corais. 'O aquecimento do oceano é um fator bastante estressante, sem dúvidas, apenas um ou dois graus é o suficiente para perturbar esses animais', diz. 'Mas atribuir o branqueamento apenas ao aumento da temperatura das águas, causado pelas mudanças climáticas globais, é cruzar os braços para nada ser feito diante da nossa impotência quanto à regulação do clima.'"

Entre as ações antrópicas que poderiam colaborar para desacelerar o aquecimento global, causa importante das mudanças climáticas, podemos citar:

A) Aumentar o lançamento de água doce nos oceanos para estabilizar as correntes marinhas quentes e frias.

B) Diminuir a extração do sal marinho nas salinas por evaporação das águas.

C) Reflorestar as áreas de ecossistemas florestais que foram perdidas por efeitos naturais ou ações do homem.

D) Aumentar o uso de combustíveis fósseis pois os mesmos fornecem bastante gás carbônico para a fotossíntese oceânica

E) Fomentar a pecuária extensiva de gado bovino, que produz esterco que pode ser utilizado na agricultura.


O GABARITO ENCONTRA-SE AO FINAL DESTA PÁGINA...
























GABARITO: 01.D   02.C   03.D   04. C

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Molécula extraída da peçonha de vespas é promessa para controle da epilepsia (com questões ao final)

Jornal da USP - Texto: Felipe Faustino - Arte : Jornal da USP


Resumo: Testes em camundongos liderados por equipe da USP em Ribeirão Preto obtiveram composto capaz de bloquear ação de substâncias nocivas aos neurônios.


Venenos e peçonhas podem parecer assustadores à primeira vista. Na natureza, os animais peçonhentos injetam toxinas capazes de alterar o metabolismo de outro animal e até matá-lo, mas também são considerados ferramentas valiosas para a ciência. É o que ocorre com a peçonha da espécie de vespa social típica do Cerrado, conhecida popularmente como marimbondo-estrela. Cientistas brasileiros descobriram na peçonha do inseto uma substância com potencial para tratar epilepsia e, ao mesmo tempo, proteger o cérebro: a occidentalina-1202
O estudo, realizado com experimentos em animais, foi conduzido pela pesquisadora Márcia Mortari nos laboratórios de biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCLRP) da USP, durante seu doutorado sob orientação do professor Wagner Ferreira dos Santos, do Departamento de Biologia da FFCLRP. Os resultados da pesquisa, publicados na Brain Communications, mostram o composto isolado da peçonha da vespa como eficaz no tratamento de modelos agudos e crônicos de epilepsia, sem efeitos colaterais no comportamento motor e cognitivo dos animais testados. Ao lado desses benefícios, observaram também atividade protetora sobre as células nervosas do cérebro. 
Segundo o professor Santos, a occidentalina-1202 consegue atravessar a barreira hematoencefálica (que protege o cérebro de substâncias nocivas presentes no sangue), chegar ao cérebro e bloquear a ação do cainato, uma toxina que atinge os neurônios e é utilizada experimentalmente para induzir crises epilépticas em animais, através dos receptores específicos para o glutamato (ou ácido glutâmico). O composto atua nesse sistema de receptores e protege o cérebro da “excitotoxicidade” que resulta na morte dos neurônios.
“É isso que ocorre na epilepsia, como em outras doenças agudas e crônicas do tecido nervoso”, afirma o professor ao informar que a occidentalina-1202(s) então é capaz de “bloquear a ligação do cainato nos seus receptores, inibindo a continuação desta cascata lesiva, causando a neuroproteção.” 

Dos testes com vespas sociais à occidentalina-1202
Tudo começa com a coleta das vespas fêmeas, que são cuidadosamente congeladas para preservar suas propriedades. Essa seleção não é fácil devido à violência dos insetos. “Para se fazer a coleta de vespas sociais temos que ter paciência e coragem; mesmo com roupa específica de coleta, sempre levei uma ou mais picadas desses insetos. Isso desestimula a continuar os trabalhos com esses himenópteros (grupo de insetos que inclui as vespas sociais)”, conta Santos.  
Após a captura, o veneno é então extraído e purificado. Técnicas de separação específicas dividem a substância em partes menores, buscando identificar as que possuem propriedades medicinais. Depois, “testamos novamente, e em seguida, purificamos completamente o composto capaz de ter o efeito antiepiléptico”, conta Márcia. 
Definido o peptídeo promissor, a equipe de cientistas desenvolvem um análogo, uma cópia modificada quimicamente que resulta então na occidentalina-1202(s), produto sintético que é mantido em solução específica (pH entre 6,8 e 7,0) a 5ºC de temperatura por 72 horas para garantir sua estabilidade e pureza.
Em uma segunda fase, analisam os efeitos dos dois peptídeos (o natural e o sintético) em dois modelos de epilepsia aguda, induzidos por ácido caínico (o cainato) e pentilenotetrazol, substâncias que provocam convulsões.
A dose efetiva foi medida, tal como o índice terapêutico, os sinais elétricos do cérebro e a expressão de um gene chamado C-fos, que está relacionado à atividade neuronal.
Logo após, submetem a molécula sintética occidentalina-1202(s) a estudos mais específicos para avaliar sua eficácia na prevenção e controle de convulsões graves e prolongadas, além de obter informações detalhadas sobre os efeitos no tecido cerebral. 
Já na quarta fase, verificam os possíveis efeitos adversos após a administração crônica, em testes que medem a capacidade de equilíbrio, memória e aprendizagem dos animais. Por fim, propõem um mecanismo de ação com a occidentalina-1202(s), usando modelos computacionais com receptores de cainato, demonstrando como a substância pode ajudar a controlar a atividade elétrica excessiva no cérebro, potencialmente reduzindo as convulsões epilépticas.
A pesquisadora Márcia Mortari acrescenta que, para garantir a segurança em uso a longo prazo, testes seguem em andamento estudando o funcionamento e controle de neurotransmissores, como o glutamato, responsável por transmitir mensagens que estimulam a atividade dos neurônios e que, em níveis excessivos, pode causar crises epilépticas. “Estamos realizando todos os testes necessários para determinar a segurança do uso desse composto, utilizando uma série de ensaios de toxicidade e de determinação de efeitos adversos.” 


Efeitos adversos menores
Caracterizada por convulsões causadas por descargas elétricas anormais no cérebro, a epilepsia atinge cerca de 50 milhões de pessoas ao redor do mundo (dados da Organização Mundial da Saúde, OMS) e o tratamento envolve a administração de fármacos antiepilépticos que, apesar de eficazes no controle das crises, podem provocar uma variedade de efeitos colaterais. Entre eles estão sedação, sonolência, tontura, problemas de memória e concentração, e até mesmo danos à medula óssea e ao fígado. 
Para a agora professora do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (UnB) Márcia Mortari, a occidentalina-1202 deve se tornar o início de uma nova classe promissora de peptídeos, extraídos da peçonha de vespas, para o desenvolvimento de medicamentos que interagem com o sistema nervoso central. “São moléculas com grande atividade e seletividade, e, por isso, possuem efeitos adversos menores”, afirma. 
A falha dos atuais tratamentos da epilepsia está na possibilidade de “causar problemas neurobiológicos, cognitivos, psicossociais e reduzir a qualidade de vida do paciente”, acrescenta o professor Santos, lembrando que, em alguns casos, esses medicamentos se tornam ineficazes, o que é chamado de farmacorresistência.
Mesmo comemorando o achado, os cientistas afirmam que testes clínicos são necessários para confirmar se a occidentalina-1202 não oferece efeitos adversos. “Ainda estamos na fase de testes em animais, fase pré-clínica. Não obstante ele não tenha causado efeito motor e cognitivo ruins aos animais de experimentação”, conclui o professor. 

Por que utilizar venenos e peçonhas?
No caso da peçonha das vespas Polybia occidentalis, Márcia lembra que o efeito produzido pelas picadas na defesa e captura de presas sempre intrigou a comunidade científica. “Elas são capazes de usar a peçonha para paralisar suas presas, no caso outros pequenos invertebrados”, explica. Esse efeito, segundo a pesquisadora, gerou a hipótese de que a substância poderia agir no nosso cérebro, reduzindo a atividade excessiva que caracteriza as crises epilépticas.
Assim, o estudo desses compostos oferece “uma oportunidade de entendermos os mecanismos fisiológicos e bioquímicos que operam em diferentes organismos, inclusive em doenças, e assim desenvolver remédios”, afirma Santos, informando que existem inúmeros exemplos na ciência, como o captopril, um remédio para controle da pressão arterial que foi desenvolvido a partir de um peptídeo extraído da peçonha de uma serpente brasileira, a Bothrops jararaca. Outro exemplo, “o ziconotide, um analgésico para controle da dor causada por câncer e/ou AIDS, que não é usado no Brasil, mas foi desenvolvido a partir de um peptídeo de um caracol marinho das Filipinas”. 
A pesquisa, conduzida por Márcia Mortari e Wagner dos Santos na USP em Ribeirão Preto, foi produzida em colaboração com outros pesquisadores da FFCLRP e da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, além da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade de Lorraine, França. Contou com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF). 

QUESTÕES PROPOSTAS

01. "Testes em camundongos liderados por equipe da USP em Ribeirão Preto obtiveram, a partir da peçonha das vespas Polybia occidentalis, um peptídeo capaz de bloquear ação de substâncias nocivas aos neurônios, a occidentalina-2012. O captopril, fármaco utilizado para controle da pressão arterial, também foi desenvolvido a partir de um peptídeo extraído da peçonha de uma serpente brasileira, a Bothrops jararaca."
Peptídeos são substâncias
A) pertencentes ao grupo dos carboidratos.
B) pertencentes ao grupo dos lipídeos.
C) semelhantes aos esteroides produzidos na suprarrenal.
D) formados por unidades nucleotídeos.
E) formados por aminoácidos ligados por ligações peptídicas.

02. No caso da peçonha das vespas Polybia occidentalis, Márcia lembra que o efeito produzido pelas picadas na defesa e captura de presas sempre intrigou a comunidade científica. “Elas são capazes de usar a peçonha para paralisar suas presas, no caso outros pequenos invertebrados”, explica. Esse efeito, segundo a pesquisadora, gerou a hipótese de que a substância poderia atuar
A) nos tecidos epiteliais secretores.
B) nos tecidos epiteliais de revestimento e absorção.
C) na atividade dos neurônios.
D) nas células vermelhas do sangue humano.
E) no controle da produção de insulina pelo pâncreas.

03. Em um trabalho de pesquisa sobre a obtenção de medicamentos a partir da peçonha de certas vespas lê-se: "Após a captura, o veneno é então extraído e purificado. Técnicas de separação específicas dividem a substância em partes menores, buscando identificar as que possuem propriedades medicinais."
A técnica de separação das substâncias preentes na peçonha, sem implicar em riscos sobre a atividade biológica das substâncias, pode utilizar-se de processos como
A) cromatografia e/ou eletroforese.
B) decantação e/ou destilação.
C) separação magnética e/ou catação.
D) flotação e/ou tamização.
E) destilação fracionada e/ou pasteurização.

O GABARITO ENCONTRA-SE AO FINAL DESTA PÁGINA...



























GABARITO: 01.E   02.C   03.A

A pedidos: Justificativa da resposta da questão 03
Como se trata de processos que não podem "implicar em riscos sobre a atividade biológica das substâncias" temos que considerar que não pode acontecer aquecimento (aquecimento desnatura proteínas, perdendo a atividade biológica). Sendo assim as alternativas B e E que envolvem destilação (portanto aquecimento) estão eliminadas. A alternativa C propõe separação magnética (impossível para compostos orgânicos) e catação (impossível para substâncias misturadas em fase líquida). A alternativa D propõe tamização (peneiração), também impossível para substâncias em fase líquida.
Por eliminação sobrou a alternativa A, que é a resposta.
Contudo, muitos alunos não conhecem cromatografia e eletroforese. Quem conhece já marcaria a alternativa A como resposta, direto. São métodos usados para separar substâncias ou fragmentos de substâncias (como proteínas e ácidos nucléicos) em trabalhos de bioquímica. Para conhecer esses processos, acesse o final da aula gravada (a partir do minuto 26): https://youtu.be/TB6YLQcCg9Y?si=qWJ4qCqCms5Y23RY

terça-feira, 9 de abril de 2024

NOVIDADE: QUESTÕES DE BIOLOGIA E QUÍMICA PARA ENEM E VESTIBULARES

As notícias publicadas aqui no site, a partir de agora, serão acompanhadas de uma ou mais questões de Biologia e Química sobre o tema da matéria. AGUARDEM!!!

domingo, 24 de março de 2024

Vacinação de rotina infantil: por que pais e cuidadores hesitam?

Link para matéria completa: https://jornal.usp.br/ciencias/vacinacao-de-rotina-infantil-por-que-pais-e-cuidadores-hesitam/

Resumo: De acordo com estudo, crítica às vacinas pode embutir crítica às relações de poder profissional-paciente, apontando para a necessidade de uma comunicação mais democrática na ciência e na saúde.


Florianópolis ocupou a segunda posição no Ranking da Saúde dos Municípios 2020, elaborado pelo Centro de Liderança Pública (CLP), entre as cidades brasileiras com menor taxa de cobertura vacinal. Para entender alguns dos fatores envolvidos neste fenômeno complexo, a hesitação vacinal, uma pesquisadora da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) realizou um estudo qualitativo, entrevistando responsáveis de crianças na capital catarinense.

Ao todo foram entrevistados 29 cuidadores de 18 famílias entre 2021 e 2022. Entre essas, seis vacinaram inteiramente seus filhos e demonstraram confiança na vacinação. Por outro lado, 19 cuidadores de 12 famílias revelaram ser hesitantes à imunização. Os círculos sociais de que os entrevistados participaram foram apontados como principais fontes de questionamento sobre as informações relacionadas às vacinas, com destaque para grupos pré-natais e escolares.

Os responsáveis mencionaram os profissionais da saúde, e principalmente os pediatras, como importantes precursores de informações verídicas sobre a vacinação. A internet também foi bastante citada como possível fonte de consulta, mas com visões divergentes entre os entrevistados. A maioria afirmou evitá-la por temer conteúdos “falsos e alarmistas”.

Diversidade

Para além dos resultados numéricos, a maior diversidade em aspectos como raça/cor, gênero, tipos de núcleos familiares e classes socioeconômicas foi o principal motivo – e o diferencial – da pesquisa. “Normalmente os estudos de hesitação vacinal nacionais e internacionais têm um olhar pouco direcionado às questões da diferenciação social, ou às particularidades da hesitação a partir de critérios sociais”, explica ao Jornal da USP a antropóloga e professora da FMUSP, Márcia Thereza Falcão, que orientou a pesquisa de Camila de Carvalho.

“A hesitação vacinal é um fenômeno específico do contexto e está relacionada à história, época e cultura de cada localidade. Sabe-se que os significados atribuídos à vacinação, e principalmente à recusa vacinal, não são homogêneos em todo o mundo”, escrevem as autoras em artigo.

Florianópolis é conhecida como um reduto para aqueles que procuram um estilo de vida “natural”. Com uma visão holística sobre a medicina, eles tecem críticas sobre a hegemonia da indústria médico-farmacêutica e a obrigatoriedade da vacinação infantil. Mesmo assim, a maior parte afirma não ser contrária às vacinas em si, ou seja, não são anti-vacinas.

Além da oposição à imunização, muitos pais afirmam que conseguem, com seus cuidados, barrar seus filhos de toda e qualquer enfermidade que possam acometê-los. Essa visão individualista acerca dos cuidados com os filhos é um dos resultados de uma tendência atual em que as pessoas buscam cada vez mais cuidados customizados, o que, de acordo com Camila Carvalho, é “epidemiologicamente inviável”. A vacinação em si é individual, mas a cobertura vacinal é uma prática de cuidados de saúde pública e que acaba acarretando num cuidado coletivo, avalia Camila, que é médica de família.

Na capital catarinense, o estudo apontou que os responsáveis que menos vacinaram seus filhos foram aqueles com maior escolaridade e renda. Esse resultado é uma manifestação contemporânea que é quase o oposto ao de um dos marcos da vacinação no País, a Revolta da Vacina. No início do século 20, com influência de um momento de tensão social após recente abolição da escravatura, o medo da população negra e pobre acerca da vacinação contra a varíola estava muito relacionado com a política repressora e um projeto higienista existente no País. Essa visão priorizava a saúde, a educação pública e o ensino de novos hábitos higiênicos pela medicina social, e seus defensores afirmavam que uma população saudável e educada seria a maior riqueza de uma nação.

Na década de 1970, em pleno regime militar, houve a institucionalização do PNI, Programa Nacional de Imunizações, para estimular e expandir a utilização de agentes imunizantes – e, consequentemente, deu início à chamada “cultura de vacinação”. “As pessoas se vacinavam e questionavam pouco o porquê de se vacinar, que passou a fazer parte de uma cultura do cuidado, sobretudo do cuidado infantil”, afirma Márcia Falcão.

Ela relata que surge “a partir dos anos 90, principalmente nos países do Norte Global, e chegando nos países do Sul Global, sobretudo no Brasil, o fenômeno do questionamento da indústria médico-farmacêutica sobre a produção das vacinas, os efeitos colaterais e a eficácia delas”. Em sua avaliação, isso se relaciona com críticas gerais à ciência, mas principalmente a uma ciência que não se comunica com a sociedade.

Camila Carvalho entende que “nunca se teve uma cobertura hegemônica no Brasil, a suposta tradição não sustenta a prática, e a população não saber o porquê se vacina, deixa bem mais frágil”. Até pouco tempo, acreditava-se que o País já teria criado uma “cultura de imunização”, mas o estudo mostra como uma dita tradição não é suficiente para uma cobertura realmente eficaz, tendo em vista as desigualdades no Brasil e as dúvidas não solucionadas de muitos cidadãos.

O estudo, que acabou tendo suas entrevistas conduzidas em plena pandemia de covid, cita o contato com outras famílias hesitantes como o principal gatilho para questionamentos sobre a vacinação de rotina. Para as pesquisadoras, a falta de debates sobre a ciência com a sociedade civil dificulta o entendimento. “Os debates democráticos que ajudem amplas parcelas da população a ter conhecimento científico, a não desinformação e uma defesa justa da ciência, e não cega por parte da classe científica, ajudariam a entender os anseios da população”, complementa Márcia Falcão.

“As famílias entrevistadas apresentam diversas críticas sobre a irredutibilidade e inflexibilidade das instituições diante de suas dúvidas sobre a vacinação. Além disso, o caráter ‘inquestionável’ atribuído às vacinas pelos prestadores de cuidados de saúde é mencionado como uma barreira para o sucesso das discussões sobre vacinas com eles. As famílias sentem que os profissionais de saúde se encontram numa posição de superioridade moral intransponível – e questionam esse estatuto. A crítica às vacinas é também uma crítica às relações de poder estabelecidas na relação profissional de saúde-paciente”, descrevem elas no artigo.

Na avaliação da professora, os governos e instituições públicas de saúde não podem fechar os olhos para as pessoas que duvidam da vacina, porque mesmo sendo uma decisão individual, essas críticas e recusas atingem a saúde de maneira coletiva. “Falar sobre vacina, seja da forma de produzir, da forma de estudar, da forma de entender os mecanismos de ação da vacina, mas também das formas das pessoas duvidarem, entender a forma como as pessoas precisam de melhor informação sobre a vacina, e dos medos ou receios que elas têm da vacina é muito importante para a comunicação pública da ciência”, diz.

Para ela, essa comunicação tem que ser democrática e inclusiva; e não só para um grupo ou para as elites. “A comunicação pública e democrática da ciência é um dever dos cientistas perante a sociedade”, enfatiza Márcia Falcão.

As conclusões da pesquisa foram discutidas no artigo Caregivers’ perceptions on routine childhood vaccination: A qualitative study on vaccine hesitancy in a South Brazil state capital, publicado na revista Human Vaccines & Immunotherapeutics.


FONTE: Jornal da USP  - Publicado: 19/03/2024

Texto: Pedro Morani

Arte: Joyce Tenório

quinta-feira, 21 de março de 2024

NOBEL A CAMINHO? Entenda como funciona um transplante de rim de porco para humanos

Link para matéria completa: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/entenda-como-funciona-um-transplante-de-rim-de-porco-para-humanos/

Resumo: No sábado (16/03/2024), o primeiro paciente vivo recebeu um transplante de rim suíno geneticamente modificado, um procedimento histórico comandado por médico brasileiro

O hospital Massachusetts General Hospital (MGH), em Boston, nos Estados Unidos, anunciou nesta quinta-feira (21/03/2024) o primeiro transplante de rim de porco, geneticamente modificado, para um paciente humano vivo. Em comunicado, o hospital afirma que o procedimento inédito foi bem-sucedido e é “um marco histórico no campo emergente do xenotransplante” — nome técnico do transplante de órgãos ou tecidos de uma espécie para outra.


A cirurgia foi comandada pelo médico brasileiro Leonardo Riella, diretor de transplante renal do MGH. Essa é a primeira vez que um transplante desse tipo foi feito em um paciente vivo. Em 2021, uma equipe de Nova York realizou um procedimento semelhante, como parte de uma pesquisa, mas em uma pessoa que tinha sofrido morte cerebral.

De acordo com o comunicado divulgado pelo hospital, o paciente que recebeu o rim de porco transplantado foi um homem de 62 anos, que vive com uma doença renal em estágio avançado. A cirurgia aconteceu no último sábado e, além de Riella, também foi comandada por Tatsuo Kawai, diretor do Centro Logorreta para Tolerância Clínica a Transplantes, e Nahel Elias, chefe interino de Cirurgia de Transplante e diretor de Cirurgia de Transplante de Rim.

O procedimento foi realizado após o aval da FDA (Food and Drug Administration) — equivalente à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) nos Estados Unidos. A aprovação, sob o Protocolo de Acesso Expandido, é concedida a um único paciente ou grupo de pacientes com doenças ou condições graves e potencialmente fatais para obter acesso a tratamentos experimentais quando não houver outras opções de tratamento ou terapias.

Como um rim de porco se torna compatível com o corpo humano?

Segundo o hospital, o rim de porco sofreu 69 edições genômicas para ser transplantado em um humano vivo. O órgão foi fornecido pela eGenesis de Cambridge, em Massachusetts, de um doador suíno que foi geneticamente editado usando uma tecnologia para remover genes suínos prejudiciais e adicionar genes humanos para melhorar a sua compatibilidade com humanos.

Além disso, os cientistas inativaram retrovírus presentes no doador suíno para eliminar qualquer risco de infecção em humanos. Nos últimos cinco anos, o MGH e a eGenesis conduziram extensas pesquisas na área de xenotransplante, tendo suas descobertas publicadas na revista científica Nature em 2023.

“Existem vários centros no mundo que estão modificando geneticamente os suínos para que eles possam ser doadores de órgãos para humanos e isso chamamos de suínos geneticamente modificados”, explica Elias David Neto, nefrologista do Hospital Sírio-Libanês, à CNN.

“A novidade agora é que os médicos norte-americanos colocaram em uma pessoa viva que estava em diálise um rim de porco geneticamente modificado, o que é um grande avanço, porque só será possível obter informações do que pode dar errado nesse tipo de procedimento quando fizerem o experimento”, comenta o especialista.

O paciente que recebeu o rim suíno geneticamente modificado já havia passado por um transplante de rim humano anteriormente, mas o órgão começou a falhar em 2023. Diante do quadro, os médicos que o acompanham sugeriram o transplante de rim de porco, explicando os prós e contras do procedimento.

“Eu vi isso não apenas como uma forma de me ajudar, mas também como uma forma de dar esperança às milhares de pessoas que precisam de um transplante para sobreviver”, diz o paciente Richard ‘Rick’ Slayman, em comunicado. Desde o procedimento, ele não está em diálise.

De acordo com David Neto, as drogas que são utilizadas após um transplante de rim humano — usadas no tratamento para evitar a rejeição do novo órgão — são as mesmas que estão sendo utilizadas no transplante de rim suíno.

“Uma das drogas que os médicos estão utilizando nesse procedimento atual está sendo aprovada para uso em transplantes, pois é uma droga nova”, afirma. “Mas, como já disse, só saberemos o que vai dar certo e o que vai dar errado a partir de novos experimentos como esse. Existem hormônios e substâncias que são produzidos após o transplante que precisamos entender se vão funcionar. O que já sabemos de estudos feitos em primatas não humanos foi útil, mas têm questões que acontecem com esses primatas que podem não ocorrer em humanos”, completa.

Histórico de xenotransplantes no mundo

O campo de xenotransplantes está em constante crescimento. Apesar de esse ter sido o primeiro transplante de rim de porco feito em um humano vivo, não é o primeiro procedimento que transplanta órgãos de animais em corpos humanos. Outros experimentos já foram realizados anteriormente.

Os primeiros estudos na área foram realizados em primatas não humanos, que receberam órgãos suínos geneticamente modificados. “No entanto, esses estudos se extinguiram, não tem como avançar mais neles, então foi preciso começar os experimentos com pessoas”, contextualiza David Neto.

Diante disso, foram realizados dois transplantes de coração de porco em pessoas vivas. O primeiro caso foi de um homem de 57 anos de Maryland, nos Estados Unidos, que recebeu o coração suíno geneticamente modificado em 2022. Ele sofria de uma doença cardíaca terminal e o órgão era “a única opção disponível” na época, de acordo com comunicado divulgado pela Escola de Medicina da Universidade de Maryland.

Em 2023, um segundo paciente passou pelo mesmo transplante, também conduzido por médicos da Universidade de Maryland. O homem de 58 anos viva com uma doença cardíaca em estágio terminal e havia sido considerado inelegível para um transplante tradicional.

Anos antes, em 2021, foi realizado o primeiro transplante de rim de porco em humano, mas em uma paciente que havia tido morte cerebral com sinais de disfunção renal. Por três dias, o novo rim foi ligado às suas veias e artérias sanguíneas e mantido do lado de fora de seu corpo, o que garantiu acesso aos pesquisadores. O transplante de rim suíno mais recente foi o primeiro em um receptor vivo, representando um marco histórico e “uma potencial solução para a escassez mundial de órgãos”, segundo o MGH.

De acordo com a Rede Unida para Compartilhamento de Órgãos (UNOS), mais de 100 mil pessoas nos EUA aguardam um órgão para transplante e 17 pessoas morrem todos os dias à espera de um órgão. Um rim é o órgão mais requisitado para transplante, e estima-se que as taxas de doença renal em estágio terminal aumentem de 29 a 68 por cento nos EUA até 2030, de acordo com estudos publicados no Journal of the American Society of Nephrology.


VEJA ABAIXO OUTRAS INFORMAÇÕES  IMPORTANTES!!!

(Link: https://g1.globo.com/saude/noticia/2024/03/21/xenotransplante-como-e-quais-orgaos-de-porcos-sao-usados-em-pesquisas-que-buscam-salvar-vidas-humanas.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias)

Xenotransplante é a troca de órgãos entre espécies diferentes. Atualmente, diversos centros de pesquisa pelo mundo (e inclusive no Brasil) investigam e já testam, na prática, o uso de porcos geneticamente modificados como origem para os órgãos que serão transplantados.

Entre os desafios para o sucesso dos xenotransplantes estão:

  • a rejeição do órgão transplantados,
  • o crescimento indevido do órgão e
  • a transmissão de doenças.

No caso dos porcos, os principais órgãos em estudo para os xenotransplantes são rins e coração.

Inativação do vírus e doenças

É sabido pela ciência que alguns vírus encontrados em animais podem causar doenças graves em humanos. Em agosto de 2017, um estudo publicado pela revista "Science" trouxe uma nova luz sobre o assunto. A nova técnica de edição genética "Crispr", descoberta em 2012, permite que o código seja editado de forma precisa e muito mais barata.

Com base nesta nova técnica, cientistas conseguiram inativar um retrovírus suíno. Eles usaram a fertilização in vitro e manipulam o DNA do ovo fecundado antes que ele se transforme em embrião. Foi retirada a parte da cadeia genética responsável pela produção de enzimas e proteínas que causam rejeição em humanos.

Além da edição genética, os porcos usados em transplantes são criados em condições estéreis para evitar qualquer risco de contaminação.

Risco de crescimento exagerado do órgão

Os mais recentes procedimentos de transplante renal e cardíaco empregaram órgãos provenientes de porcos geneticamente modificados, conhecidos como "porcos de 10 genes", especificamente desenvolvidos para essa finalidade.

Esses porcos foram geneticamente ajustados para evitar reações dos órgãos doados aos hormônios de crescimento humano, prevenindo assim um crescimento descontrolado.

No total, 10 alterações foram feitas:

  • Três genes – responsáveis por uma rápida rejeição de órgãos de porcos por humanos, mediada por anticorpos – foram “eliminados” no porco doador.
  • Seis genes humanos responsáveis pela aceitação imunológica do coração de porco foram inseridos no genoma.
  • Um gene do porco foi eliminado para evitar que o tecido cardíaco transplantado crescesse demais.

Risco de rejeição do órgão transplantado

Mesmo nos transplantes tradicionais, nosso sistema imunológico pode tratar o órgão transplantado como uma infecção e o atacar. Por isso são administrados imunossupressores, que são medicamentos que evitam a rejeição do órgão transplantado.

Em ao menos uma das técnicas usadas para evitar a rejeição do tecido suíno, cientistas experimentaram excluir na edição genética a presença da molécula de açúcar alfa-Gal*. Ela se prende às células dos porcos e funciona como um marcador que alerta o sistema imunológico de que aquilo se trata de um material estranho.

Há ainda outros "marcadores" que podem ser editados, conforme a linha de pesquisa, e "marcadores humanos" podem ser acrescentados ao órgão suíno para enganar nosso sistema imunológico.


* Alfa-gal, também conhecido como alfa-galactose ou galactose-alfa-1,3-galactose, é um tipo específico de açúcar encontrado em algumas carnes vermelhas, como carne de boi, carneiro e porco. Está presente em glicoproteínas da membrana celular de mamíferos não-primatas e funciona como um antígeno que pode ser atacado por nosso sistema imune, daí a importância de sua remoção.