sexta-feira, 10 de julho de 2020

Pesquisadores do Instituto Butantan descobrem que cobras-cegas podem ser peçonhentas

Link para matéria completa: https://gizmodo.uol.com.br/pesquisadores-do-instituto-butantan-descobrem-que-cobras-cegas-podem-ser-peconhentas/

Resumo: Cientistas detectaram glândulas dentárias semelhantes às de serpentes em cobras-cegas, o que significa que essas criaturas podem ser realmente peçonhentas — uma característica inédita entre os anfíbios.

As cecílias — também chamadas de cobras-cegas, apesar de não serem cobras e, sim, anfíbios — secretam uma substância através da pele que as torna mais viscosas. Elas também descarregam uma substância tóxica de suas extremidades traseiras para afastar predadores. E, como aponta uma nova pesquisa publicada na iScience, estes animais também são capazes de dar mordidas venenosas.

“Costumamos pensar em anfíbios — rãs, sapos e similares — como basicamente inofensivos”, disse Edmund Brodie Jr., biólogo da Universidade Estadual de Utah e co-autor do novo estudo, em um comunicado. “Sabemos que vários anfíbios armazenam secreções venenosas e desagradáveis ​​na pele para afastar predadores. Mas descobrir que pelo menos um deles pode causar ferimentos pela boca é extraordinário.”

Na verdade, os cientistas não provaram que a gosma proveniente das glândulas dentárias das cecílias é realmente venenosa, mas suas descobertas preliminares certamente sugerem a possibilidade. Se for verdade, isso representaria “um projeto evolutivo precoce dos órgãos de veneno oral”, informou Brodie, da Universidade de Utah, e possivelmente uma característica que “evoluiu nas cecílias mais cedo do que nas cobras”, disse ele.

Em 2018, por exemplo, a mesma equipe descobriu que a Siphonops annulatus, uma espécie terrestre de cobra-cega com anéis, pode liberar um lubrificante mucoso das glândulas da pele, permitindo que elas se contorçam rapidamente no subsolo ao evitar ameaças.

Elas também são venenosas (o que é diferente de peçonhentas, como são chamados os animais que possuem uma maneira ativa, e não passiva, de liberar toxinas), secretando toxinas das glândulas da cauda, ​​apresentando uma surpresa desagradável para qualquer predador que esteja atrás delas.

Durante sua última investigação sobre S. annulatus, os pesquisadores encontraram mais uma glândula de gosma em cecílias, embora desta vez nas mandíbulas superior e inferior, “com longos ductos que se abrem na base de cada dente em forma de colher”, explicou Brodie.

Pesquisas posteriores identificaram formalmente essas características como glândulas dentárias, distinguindo-as das glândulas de muco e veneno encontradas em sua pele. O que é fascinante é que essas glândulas dentárias compartilham uma origem evolutiva com as glândulas dentárias encontradas nos répteis, apontando para uma potencial convergência evolutiva.

Brodie e seus colegas acreditam que essas glândulas dentárias entram em ação quando as cecílias mastigam suas presas, incluindo vermes, cupins, sapos e lagartos. Isso ainda precisa ser comprovado, mas a equipe suspeita que seus dentes possam secretar a substância no momento da mordida.

Além disso, “o sulco que circunda a mandíbula superior interconectando os dentes parece desempenhar um papel importante na distribuição uniforme da secreção durante as mordidas”, escreveram os autores do estudo.

Quanto à substância em si, uma análise química mostrou que é uma mistura de muco, lipídios e uma proteína com propriedades comumente encontradas em animais peçonhentos, segundo a pesquisa.

“Embora tenhamos mostrado a presença de glândulas dentárias e seu possível papel durante a predação, ainda são necessárias mais evidências sobre a identidade precisa das proteínas presentes na secreção, bem como dados sobre o potencial tóxico desses compostos”, de acordo com o artigo.

Obviamente, mais trabalhos serão necessários, mas este é um resultado muito surpreendente. Rapidamente, as cecílias deixaram de ser animais somente nojentos para se tornarem animais interessantes e até mesmo fascinantes. Eles não são as criaturas mais agradáveis ​​de se olhar, mas uma coisa que você não pode dizer é que elas são monótonas.

domingo, 5 de julho de 2020

Ameba "comedora de cérebro": entenda o que é esse protozoário letal.

Link para texto completo: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2020/07/ameba-comedora-de-cerebro-entenda-o-que-e-esse-protozoario-letal.html

Resumo: Protozoário Naegleria fowleri vive em águas quentes e não tratadas, e infecta seres humanos ao entrar pelas cavidades nasais.

Na última sexta-feira (3/7/2020), o Departamento de Saúde da Flórida, nos Estados Unidos, confirmou  um caso de ameba "comedora de cérebro" na região. Esta não é a primeira vez que alguém infectado pela doença vira notícia — em setembro de 2019, uma menina de 10 anos que morreu após contrair a doença, também nos Estados Unidos.

Mas, afinal, o que é a tal ameba "comedora de cérebro"? Entenda a seguir o que é o microrganismo e os problemas que ele pode causar:

A ameba "comedora de cérebro" é um protozoário conhecido cientificamente como Naegleria fowleri. Ele é um microrganismo de vida livre, ou seja, pode viver "solto por aí" e não depende necessariamente de um hospedeiro humano.

O protozoário é comumente encontrado no solo e em locais de água doce quente, como lagos, rios e fontes termais. A infecção pelo microrganismo geralmente se dá quando a água contaminada entra pelo nariz da pessoa. Uma vez dentro do organismo, a N. fowleri atinge o cérebro, causando uma doença conhecida como Meningoencefalite Amebiana Primária, que pode ser fatal.

Segundo o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, a enfermidade se manifesta, inicialmente, a partir da perda de olfato e paladar, que ocorre cerca de cinco dias após a infecção. Em seguida, como o protozoário continua a migrar pelo tecido nervoso, uma resposta imunológica é desencadeada, resultando em uma inflamação do cérebro que gera rigidez do pescoço e dor de cabeça. À medida que a infecção progride, sintomas secundários surgem, como alucinações e convulsões. Eventualmente, o aumento da pressão craniana gerada pela inflamação pode levar à morte.

A boa notícia é que o problema é raro: entre 2006 e 2016, apenas 40 casos foram reportados nos Estados Unidos, segundo o CDC. No Brasil não há registros recentes de contaminação por Naegleria fowleri.

De acordo com o CDC, a taxa de fatalidade da doença chega a 97%. Há pouco ou nada que se possa fazer para ajudar os pacientes diagnosticados a Meningoencefalite Amebiana Primária. No entanto, um tratamento à base de miltefosina, medicamento experimental para leishmaniose, tem sido testado e se mostrou promissor.

A recomendação dos especialistas para evitar a contaminação é evitar o contato com águas que possam estar contaminadas, como piscinas inadequadamente cloradas ou mesmo água de torneira que não tenha sido tratada. Ao nadar em lagos e rios, é indicado utilizar proteção nasal.