sexta-feira, 23 de setembro de 2022

O vírus que destrói câncer e pode revolucionar tratamento de tumores avançados.

Link para matéria completa: https://g1.globo.com/ciencia/noticia/2022/09/23/o-virus-que-destroi-cancer-e-pode-revolucionar-tratamento-de-tumores-avancados-segundo-cientistas.ghtml

Resumo: Um novo tipo de tratamento contra o câncer que usa um vírus comum para infectar e destruir células nocivas está se mostrando bastante promissor nos primeiros testes em humanos, dizem cientistas do Reino Unido. O câncer de um paciente desapareceu, enquanto outros viram seus tumores encolherem.

A droga é uma forma enfraquecida do vírus da herpes — herpes simplex — que foi modificado para matar tumores. Estudos maiores e mais prolongados são necessários, mas especialistas dizem que a injeção pode, por fim, oferecer uma tábua de salvação para mais pacientes com câncer avançado.

Krzysztof Wojkowski, um construtor de 39 anos do oeste de Londres, é um dos pacientes que participaram da fase 1 do teste de segurança em andamento, administrado pelo Instituto de Pesquisa do Câncer do Royal Marsden NHS Foundation Trust. Ele foi diagnosticado em 2017 com câncer nas glândulas salivares, perto da boca. Apesar da cirurgia e de outros tratamentos na época, seu câncer continuou a crescer. "Me disseram que não havia mais opções para mim, e que eu estava recebendo cuidados de fim de vida. Foi devastador, então foi incrível ter a chance de participar do estudo".

Um curto curso da terapia baseada no vírus — que é uma versão especialmente modificada do vírus da herpes que normalmente causa herpes labial — parece ter eliminado o tumor. "Tomei injeções a cada duas semanas durante cinco semanas que erradicaram completamente meu câncer. Estou livre do câncer há dois anos."

As injeções, aplicadas diretamente no tumor, atacam o câncer de duas maneiras — invadindo as células cancerosas e fazendo-as romper, e ativando o sistema imunológico. Cerca de 40 pacientes tentaram o tratamento como parte do estudo. Alguns tomaram apenas a injeção de vírus, chamada RP2. Outros tomaram ainda outro medicamento contra o câncer — chamado nivolumab. Os resultados, apresentados em uma conferência médica em Paris, na França, mostram que:

  • Três em cada nove pacientes que tomaram apenas RP2, incluindo Krzysztof, viram seus tumores encolherem;
  • Sete em cada 30 que receberam tratamento combinado também pareceram se beneficiar;
  • Os efeitos colaterais, como cansaço, foram leves em geral.
  • O principal pesquisador do estudo, Kevin Harrington, disse à BBC que as respostas ao tratamento observadas foram "verdadeiramente impressionantes" em uma variedade de cânceres avançados, incluindo câncer de esôfago e um tipo raro de câncer de olho.

"É raro ver taxas de resposta tão boas no estágio inicial de ensaios clínicos, pois seu objetivo principal é testar a segurança do tratamento, e envolve pacientes com câncer muito avançado para os quais os tratamentos atuais pararam de funcionar", afirmou. "Estou ansioso para ver se vamos continuar a ver benefícios à medida que tratamos um número maior de pacientes".

Não é a primeira vez que cientistas usam um vírus para combater o câncer. O NHS, sistema de saúde público do Reino Unido, aprovou um tratamento baseado no vírus do resfriado, chamado T-Vec, para câncer de pele avançado há alguns anos. Harrington chama o RP2 de uma versão turbinada do T-Vec. "Teve outras modificações no vírus para que, ao entrar nas células cancerígenas, efetivamente assine sua sentença de morte".

Marianne Baker, da organização Cancer Research UK, disse que as descobertas encorajadoras podem mudar o curso do tratamento do câncer. "Os cientistas descobriram que os vírus podem ajudar a tratar o câncer há 100 anos, mas tem sido um desafio aproveitá-los com segurança e eficácia."

"Esta nova terapia viral se mostrou promissora em um teste inicial de pequena escala — agora precisamos de mais estudos para descobrir como funciona."

"A pesquisa sugere que combinar vários tratamentos é uma estratégia poderosa, e terapias de vírus como esta podem se tornar parte do nosso kit de ferramentas para vencer o câncer".

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Robô da Nasa encontra moléculas orgânicas em Marte.

Link para matéria completa: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/ansa/2022/09/15/robo-da-nasa-encontra-moleculas-organicas-em-marte.htm

Resumo: O robô Perseverance, da Nasa, encontrou na superfície de Marte rochas que contêm moléculas orgânicas. Os compostos foram achados em fragmentos de uma crista de um metro de altura batizada como "Wildcat" ("Gato selvagem") e situada na cratera Jezero, que há bilhões de anos abrigou o delta de um rio hoje extinto. Segundo a Nasa, o Perseverance desgastou a superfície da rocha para analisá-la com um instrumento chamado "Sherloc", sigla em inglês para Scanner de Ambientes Habitáveis com Raman e Luminescência para Orgânicos e Químicos, mas que também faz referência ao célebre personagem de histórias de detetive Sherlock Holmes.

"A análise do Sherloc indica que as amostras apresentam uma classe de moléculas correlacionadas àquelas dos minerais sulfetos. Os minerais sulfetos encontrados em rochas sedimentares podem fornecer informações significativas sobre o ambiente aquoso no qual se formaram", diz a Nasa. Moléculas orgânicas são compostos formados principalmente por carbono e que normalmente incluem átomos de oxigênio e hidrogênio, mas que também podem conter outros elementos, como nitrogênio, fósforo e enxofre.

"A presença dessas moléculas é considerada uma potencial bioassinatura, ou seja, uma substância ou estrutura que pode ser uma evidência de vida passada, mas que também pode ter sido produzida sem a presença de vida", acrescenta a agência. Moléculas orgânicas são possíveis "tijolos" na construção de moléculas biológicas, porém também podem se formar através de reações químicas.

Em 2013, o rover Curiosity já tinha encontrado evidências de matéria orgânica em amostras de pó de rocha, assim como o Perseverance, mais recentemente, na própria cratera Jezero. A diferença, segundo a Nasa, é que, desta vez, a descoberta ocorreu em uma área onde, em um passado distante, sedimentos e sais foram depositados em um lago onde a vida pode ter existido.

"No passado distante, a areia, a lama e os sais que agora compõem a amostra da Crista Wildcat foram depositados sob condições em que a vida pode ter prosperado", declarou Ken Farley, cientista do projeto Perseverance. "O fato de que matéria orgânica tenha sido encontrada em uma rocha sedimentar - tipo conhecido por preservar fósseis de vida antiga na Terra - é importante. No entanto, por mais capazes que sejam os instrumentos a bordo do Perseverance, novas conclusões terão de esperar até a amostra retornar para a Terra", ressaltou.

A Nasa planeja enviar uma missão para buscar as amostras coletadas pelo Perseverance até o fim da década.

sábado, 10 de setembro de 2022

Paleontólogos brasileiros e britânicos identificam no RS o mais antigo mamífero da Terra

Link para matéria completa: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2022/09/10/paleontologos-brasileiros-e-britanicos-identificam-no-rs-o-mais-antigo-mamifero-da-terra.ghtml

Resumo: Um grupo de pesquisadores brasileiros e ingleses conseguiu estabelecer que pequenos fósseis encontrados no Rio Grande do Sul no início dos anos 2000 são os mamíferos mais antigos do planeta Terra. A descoberta foi publicada nesta terça-feira (6/9/2022) no periódico inglês Journal of Anatomy.

Os estudos foram realizados com as dentições dos Brasilodon quadrangularis, encontrados em rochas fossilíferas do período Triássico/Noriano, datadas como tendo aproximadamente 225 milhões de anos. Os materiais foram encontrado inicialmente em Faxinal do Soturno, na Região Central do Rio Grande do Sul, e depois em outros pontos do RS. Os pequenos brasilodontídeos tinham apenas 20 cm de comprimento e se assemelhavam aos pequenos roedores atuais.
"Os materiais foram encontrados no início dos anos 2000, mas não tinham uma identidade estabelecida como mamíferos, eles estavam estabelecidos como répteis, estavam fora do quadro mamário", explica o paleontólogo Sergio Furtado Cabreira, doutor em Geologia pelo Programa de Pós-Graduação em Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O pesquisador foi orientado pelo professor Cesar Leandro Schultz, que também assina o trabalho ao lado de pesquisadores de diferentes instituições e áreas.
Cabreira explica que o animal foi descrito desde 2003 na literatura internacional pelo paleontólogo José Bonaparte, mas que, naquele momento, "inexistiam ferramentas acadêmicas para analisar a biologia do animal". Os pesquisadores criaram, então, um novo método que consiste em analisar a dentição de um conjunto de três mandíbulas.
"Nossa pesquisa demonstrou, através de análises de microscopia das mandíbulas e dos dentes, que estes pequenos animais já apresentavam difiodontia, isto é, apenas uma dentição permanente substituindo a dentição de leite”, explica Cabreira. Dessa forma, foi possível constatar que a substituição dos dentes ocorreu dentro de um "padrão tipicamente mamariano placentário", explica.
O pesquisador afirma que o grupo começou a estudar o material em 2004 e, "ao longo dos últimos anos a gente vem agregando ferramentas teóricas para que pudéssemos interpretar as lâminas histológicas". Ele destaca que mandíbula do animal tem cerca de 2 centímetros.


A pesquisa analisou a mandíbula dos animais — Foto: Rochele Zandavalli / UFRGS

A descoberta
De acordo com Cabreira, a descoberta muda o paradigma do que era entendido até então como os primeiros caracteres mamarianos. "Os métodos atuais de classificação do que é um mamífero vão ter que se readequar", afirma o pesquisador, incluindo a bibliografia acadêmica sobre a genética da origem dos mamíferos.

terça-feira, 6 de setembro de 2022

Saúde prorroga campanha de vacinação contra pólio por baixa adesão

Link para matéria completa: https://www.tecmundo.com.br/ciencia/246244-saude-prorroga-campanha-vacinacao-polio-baixa-adesao.htm

Resumo: Devido à baixa adesão, o Ministério da Saúde decidiu na segunda-feira (05/09/2022) prorrogar a Campanha Nacional de Vacinação contra a poliomielite, que seria encerrada na próxima sexta-feira, para o dia 30 de setembro. O foco da campanha é não apenas vacinar crianças de 1 a 4 anos com as primeiras doses, mas também incentivar a aplicação da dose de reforço em crianças mais velhas.

A quatro dias do final do esforço nacional de imunização, somente 34,4% das crianças entre seis meses e 4 anos 11 meses e 29 dias de idade haviam se vacinado até a segunda-feira (5), segundo a Agência Brasil. O número representa apenas 3,9 milhões de doses, mostrando que uma multidão de 7,5 milhões de crianças ainda não foram vacinadas contra a paralisia infantil no país.

Com a medida, o Ministério prorrogou igualmente a campanha de multivacinação, que acontece de forma concomitante à da pólio, e que tem como objetivo recuperar a cobertura vacinal de crianças e adolescentes que deixaram de tomar, durante o período da pandemia, os imunizantes previstos no calendário nacional de vacinação.

Embora a poliomielite tenha certificado de erradicação no Brasil desde 1994, a baixa cobertura vacinal dos últimos anos fez com que a doença contagiosa aguda continue sendo prioritária na campanha de vacinação. Atualmente, a prefeitura de Rorainópolis, em Roraima, está investigando um caso suspeito da doença que, em formas graves, leva à paralisia dos membros inferiores.

Além da Vacina Inativada Poliomielite (VIP), mais 17 imunizantes estão disponíveis para que crianças e adolescentes de até 15 anos atualizem suas cadernetas de vacinação.

sábado, 3 de setembro de 2022

Vazamento de Hidrogênio: NASA suspende novamente o lançamento da missão à Lua

Link para matéria completa: https://canaltech.com.br/espaco/artemis-i-nasa-suspende-novamente-o-lancamento-da-missao-a-lua-224607/

Resumo: A NASA suspendeu novamente, na manhã deste sábado (3/9/2022) o lançamento da missão Artemis I, o primeiro passo em seu ambicioso programa de retorno à Lua.
Desta vez o motivo foi um vazamento de hidrogênio em uma linha de engate rápido que abastece um dos tanques de combustível. A falha foi detectada durante o abastecimento do estágio central do foguete SLS, por volta das 8h30 da manhã, e apesar de múltiplas tentativas não pôde ser resolvida.
O mesmo vazamento já havia se manifestado na tentativa anterior na segunda-feira (29), mas foi corrigido. O motivo do cancelamento naquela data foi outro: um dos 4 motores do estágio central do foguete não atingiu a temperatura necessária para o lançamento, de cerca de -215 ºC. O motor precisa ser resfriado para evitar choque térmico quando o combustível, em temperatura criogênica (-253 ºC), começar a circular por ele.

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Amazônia perdeu o equivalente a dez vezes o estado do Rio de Janeiro em 37 anos, aponta MapBiomas

Link para matéria completa: https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2022/09/03/amazonia-perdeu-o-equivalente-a-dez-vezes-o-estado-do-rio-de-janeiro-em-37-anos-aponta-mapbiomas.ghtml

Resumo: A Amazônia perdeu o equivalente a 12% de florestas nos últimos 37 anos, de acordo com o levantamento do MapBiomas, divulgado nesta sexta-feira (02/09/2022). A atualização dos dados sobre uso e cobertura da terra de 1985 a 2021 demonstrou que 44 milhões de hectares foram perdidos. O desmatamento é o equivalente a dez vezes a área de todo o estado do Rio de Janeiro.

Durante esses anos, 44,5 milhões de hectares foram convertidos para agropecuária, atividade que representa o principal vetor de desmatamento da região. Em 2021, a agropecuária ocupava 15% do bioma.

“O atual modelo de desenvolvimento econômico, baseado na conversão descontrolada de áreas de vegetação natural, coloca o Brasil frente a graves problemas no atual cenário de mudanças do clima”, explica Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas.

Dentre todos os estados que compõem a Amazônia Legal, o Pará foi o mais desmatado, com 35,2% das florestas convertidas em áreas de agricultura ou pastagem. O estado também tem uma estrada ilegal que atravessa áreas protegidas.

Perda de água e avanço do garimpo

Ainda de acordo com o levantamento, a Amazônia perdeu 14,5% de água, sendo Roraima o estado mais afetado. Em 25 anos houve uma redução de 53%.

Outro ponto de atenção é o avanço do garimpo. Em 2021, a atividade respondeu por três em cada quatro hectares (74%) mapeados como mineração na Amazônia. Dos pouco mais de 217 mil ha de área minerada no bioma, 64% foram mapeados no estado do Pará. Esse estado é também o que registrou maior expansão urbana nos últimos 37 anos.

Pouco mais da metade (54,3%) das áreas florestais remanescentes estão em áreas legalmente protegidas, como Terras Indígenas e Unidades de Conservação (exceto APA) – percentual semelhante ao das formações campestres que estão dentro de áreas protegidas (58,7%).

"Os recentes recordes de desmatamento e de queimadas comprovam que a Amazônia não está protegida. É importante ressaltar que não se trata apenas de desmatamento: parte da floresta remanescente está degradada. Esse processo coloca a floresta mais perto do ponto de inflexão a partir do qual ela entra em colapso", alerta Luis Oliveira Jr., que integra a equipe Amazônia do MapBiomas

Em julho deste ano, a divulgação do segundo o Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD), do MapBiomas demonstrou que só nos últimos três anos (2019-2021) o Brasil perdeu quase um Estado do Rio de Janeiro de vegetação nativa.

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Como se formam os 'rastros de nuvem' que aviões deixam no céu?

Link para matéria completa: https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-62753292

Resumo: Após as primeiras observações no início do século 20, a causa exata dos rastros de nuvens deixados pelos aviões foi motivo de debate por décadas, segundo Ulrich Schumann, professor de física atmosférica do Centro Aeroespacial Alemão (DLR, na sigla em alemão).

As primeiras teorias propuseram que os rastros seriam vibrações do motor do avião ou efeitos de cargas elétricas. Outros imaginaram se elas ocorreriam devido ao vapor d'água supersaturado, mas isso foi descartado porque se acreditava que a quantidade de vapor emitida seria insuficiente.

Descobrir as causas dos rastros dos aviões não foi uma grande preocupação até a Segunda Guerra Mundial, quando eles foram considerados um problema pela primeira vez.

"Eles [os rastros] revelam a posição das aeronaves. Você pode ver o rastro de um avião durante o voo", afirma Schumann. "Por isso, durante a Segunda Guerra Mundial, os militares tentaram evitar os rastros de nuvens porque queriam impedir a visibilidade das suas aeronaves."

As primeiras explicações corretas sobre a formação dessas nuvens foram elaboradas no início dos anos 1940 e 50. Foi quando surgiu o que agora é conhecido como critério de Schmidt-Appleman, que demonstra que as condições para formação dependem da pressão ambiente, da umidade e da relação entre a água e o calor liberados pelo avião.

Em resumo, os rastros dos aviões — chamados em inglês de contrails, abreviação de "trilhas de condensação" — são nuvens de partículas de gelo em formato linear que se formam depois da passagem das aeronaves. Eles podem ter de 100 metros a vários quilômetros de comprimento.

Três coisas são necessárias para que os rastros se formem: vapor d'água, ar frio e partículas sobre as quais o vapor d'água possa condensar-se.

O vapor d'água é produzido pelos aviões quando o hidrogênio do combustível reage com o oxigênio do ar. Em condições frias (tipicamente, abaixo de cerca de -40 °C), ele pode condensar-se, normalmente sobre as partículas de fuligem também emitidas pelos motores das aeronaves, em uma nuvem de gotículas que se congelam para formar partículas de gelo.

De forma geral, o processo relembra o congelamento da respiração em um dia frio de inverno, segundo Schumann.

Nem todas as aeronaves produzem rastros de nuvens. Estima-se que eles ocorram em cerca de 18% dos voos. É preciso que o ar esteja suficientemente frio para que a água congele e, por isso, eles normalmente aparecem apenas acima de certas altitudes — tipicamente, 6 km, ou 20 mil pés.

E a quantidade de voos que produz os rastros de nuvens mais persistentes é ainda menor. Quando o ar é limpo e sem nuvens, os rastros desaparecem rapidamente, pois o ar seco ambiente causa a sublimação das partículas de gelo (elas passam do estado sólido diretamente para o gasoso).

Mas se a atmosfera estiver úmida, as partículas de gelo não conseguem sublimar-se e os rastros podem durar por muito mais tempo.

"Os rastros podem durar apenas alguns minutos se o ar à sua volta for seco, mas, quando for úmido, eles podem persistir e espalhar-se para aumentar a formação de cirros", afirma Tim Johnson, diretor da organização sem fins lucrativos Aviation Environment Federation (AEF), com sede no Reino Unido.

Ele acrescenta que isso é importante porque os rastros de nuvens e o aumento da captura do calor irradiado pela Terra nas nuvens contribuem com o aquecimento do nosso planeta. E esse aquecimento é somado ao outro importante impacto climático da aviação — o CO2 lançado em imensas quantidades pelo escapamento dos aviões, que representa cerca de 2,5% das emissões globais de gás carbônico.

Mas o impacto climático dos rastros dos aviões é muito mais complicado que o das emissões de CO2.


O efeito sobre o aquecimento global

Nos anos 1960, começaram a surgir os primeiros estudos observando que os rastros dos aviões poderiam ter um efeito sobre a Terra, mas de resfriamento, segundo Schumann.

Isso ocorre porque o tom de branco das nuvens induzidas pelos rastros dos aviões reflete a luz solar para longe da superfície da Terra durante o dia, de forma similar aos cirros, que são nuvens naturais também compostas de cristais de gelo.

Mas os cientistas logo perceberam que os rastros de nuvens dos aviões também podem ter efeito de aquecimento da Terra, por meio de um efeito "estufa" de captura da luz infravermelha. "Eles capturam o calor emitido pela superfície da Terra e emitem parte dele de volta para a superfície", afirma Schumann. Este processo é similar à forma como os céus nublados produzem nuvens mais quentes.

Dependendo das condições exatas, um desses efeitos opostos pode sair vencedor. Rastros de nuvens formados sobre um cenário coberto de neve, por exemplo, não aumentam o resfriamento com a reflexão da luz solar, pois a superfície já é branca e refletora. Os rastros dos aviões também aquecem mais à noite, pois não há luz solar para ser refletida por eles. Por isso, o único efeito que ocorre é o de aquecimento.

Tudo isso, aliado à dificuldade de compreensão das condições atmosféricas exatas que formam os rastros dos aviões e sua diferenciação dos cirros naturais depois que eles se espalham pelo céu, faz com que a definição de números exatos sobre o impacto climático dos rastros de nuvens dos aviões seja algo complicado.

Mas a compreensão atual é de que "em média, em todos os países do mundo, ao longo de um ano, os rastros dos aviões aquecem", segundo Schumann.

O último estudo importante sobre o impacto climático dos rastros de nuvens, publicado em 2020, estimou que os impactos da aviação não relacionados ao CO2 — basicamente, os rastros de nuvens — triplicam a "promoção radiativa" das emissões de CO2 isoladamente.

De certa forma, esta é uma comparação capciosa, já que os efeitos de aquecimento dos rastros dos aviões e do CO2 ocorrem em horizontes temporais muito diferentes. "Os rastros de nuvens têm um esforço promotor muito forte, muito mais forte que o CO2. Mas os rastros têm vida curta e desaparecem após cerca de uma hora. Já o CO2 permanece por muito tempo — ele pode permanecer por 100 anos", explica Schumann.

A solução

Ainda assim, os cientistas alertaram que o efeito de captura de calor dos rastros de nuvens poderá triplicar até 2050, se nenhuma medida for tomada. A boa notícia é que esta pode ser, na verdade, uma ação razoavelmente simples. Pesquisadores demonstraram que apenas 2,2% dos voos contribuem com 80% dessa promoção e ajustes relativamente pequenos das altitudes desses voos — com baixo custo de combustível — poderão reduzir enormemente o efeito de aquecimento dos rastros de nuvens.

Pesquisas indicaram ainda que a formação de rastros de nuvens pode também ser reduzida diminuindo-se a quantidade de partículas de fuligem emitidas pelos voos, pois elas fornecem os núcleos onde se formam os cristais de gelo.

Evitar voar através de ar muito úmido, onde podem formar-se rastros de nuvens persistentes, é a medida mais importante neste processo, segundo Schumann, passando-se a voar acima, abaixo ou em volta dessas regiões. Mas ele afirma que são necessárias melhores previsões do tempo para possibilitar esta medida. "As previsões meteorológicas que temos hoje em dia não são suficientemente precisas para este propósito", segundo ele.

Em carta à revista Nature em 2021, dois pesquisadores argumentaram que o ajuste das altitudes de voo para minimizar a formação de rastros de nuvens poderá ser uma das medidas climáticas mais econômicas que podem ser tomadas.

Eles calculam que evitar os rastros de nuvens mais prejudiciais custaria US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,1 bilhões) por ano, com benefício de mais de mil vezes este valor. "Não conhecemos nenhum investimento climático comparável com probabilidade tão alta de sucesso", escreveram eles.

Mas, embora os governos reconheçam os desafios climáticos impostos pelos rastros dos aviões, poucas ações políticas foram tomadas até agora, segundo Tim Johnson. "Todos os objetivos climáticos definidos para o setor pela indústria, pelos países e pelas Nações Unidas referem-se apenas ao CO2", explica ele. "O debate sobre a incerteza científica e medições apropriadas é frequentemente mencionado como razão para dedicar maiores pesquisas em vez de ações."

No Reino Unido, os consultores governamentais sobre mudanças climáticas afirmaram que efeitos não relativos ao CO2, como os dos rastros de nuvens dos aviões, precisam ser objeto de maior atenção.

Observar esses efeitos agora é essencial, especialmente considerando como as tecnologias do futuro, como o hidrogênio, podem reduzir as emissões do setor, segundo Johnson.