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Resumo: Cerca de duas em cada dez espécies de répteis do mundo estão ameaçadas de extinção, aponta um estudo inédito feito com mais de 10 mil espécies e publicado na revista científica "Nature" nesta quarta-feira (27/04/2022).
A pesquisa é uma das primeiras do tipo a avaliar de forma abrangente o risco de extinção para essa classe de animais. Ela foi liderada por pesquisadores da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) e pela ONG Conservação Internacional.
Nos últimos anos, outros grandes estudos do tipo já tinham sido feitos para aves, anfíbios e mamíferos, mas não para répteis especificamente. "Grande parte do trabalho de conservação de animais era feito com esses (outros) grupos. A gente não tinha uma avaliação global dos répteis. Agora esse trabalho andou e finalmente temos a primeira [pesquisa] mundial", comemora Márcio Roberto Costa Martins, professor do Departamento de Ecologia da USP, que participou da publicação.
A pesquisa durou mais de 10 anos e envolveu 900 cientistas de 24 países (representando os seis continentes). Eles analisaram as necessidades de conservação de répteis como lagartos, cobras, tartarugas e crocodilos. Das 10.196 espécies avaliadas, cerca de 1.829 (21%) estão ameaçadas de extinção (categorizadas como vulneráveis, em perigo ou criticamente em perigo, conforme a lista vermelha da IUCN).
A análise também indicou que as duas espécies mais ameaçadas de répteis são os crocodilos e as tartarugas: cerca de 57,9% e 50,0% dos representantes dessas duas espécies avaliadas estão sob ameaça, respectivamente.
No Brasil, o trabalho foi coordenado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e contou com a participação de dezenas de pesquisadores. E a ciência brasileira ofereceu uma grande contribuição para a pesquisa. Márcio Martins explica que das 10 mil espécies de répteis avaliadas, cerca de 800 ocorrem no país e, por isso, foram estudadas. Além disso, as principais espécies de répteis ameaçadas por aqui, segundo o pesquisador, são a jararaca-ilhoa, a jiboia amarela (Corallus cropanii) e as tartarugas marinhas.
"A jaraca-ilhoa é um caso emblemático porque teve um declínio populacional grande. Metade da população da espécie foi perdida muito provavelmente por exploração ilegal e tráfico de animais", conta Martins. "Já a cobra amarela, que passou por mais de 50 anos sem ser observada no país, começou a reaparecer, em alguns indivíduos, nos últimos anos. O que faz a gente acreditar que esse é um animal muito difícil de ser detectado na natureza". Já as tartarugas marinhas têm as cinco espécies que ocorrem no Brasil ameaçadas de extinção.
De acordo com os pesquisadores, embora os répteis sejam conhecidos por habitarem lugares inóspitos como desertos e vegetações áridas, a maioria das espécies ocorre em habitat florestais e, por isso, sofrem com as crescentes ameaças de exploração madeireira e de desflorestamento causado pela indústria agrícola.