segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Nobel de Medicina 2022 vai para Svante Pääbo por descobertas sobre o genoma de ancestrais humanos extintos

Link para texto completo: https://g1.globo.com/ciencia/noticia/2022/10/03/nobel-de-medicina-2022-vai-para-svante-paabo.ghtml

Resumo: O sueco Svante Pääbo é o ganhador do Prêmio Nobel 2022 em Medicina, anunciou a Assembleia do Nobel no Instituto Karolinska, da Suécia, nesta segunda-feira (03/10/2022). Pääbo levou o prêmio, que totaliza 10 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 4,8 milhões), por suas descobertas sobre os genomas de hominídeos extintos e a evolução humana. Em 1982, o pai do cientista, Sune Bergstrom, também ganhou o Nobel de Medicina.

Ao explicar as diferenças genéticas que distinguem todos nós seres humanos vivos desses ancestrais já extintos, o trabalho de Svante Pääbo deu origem a um campo científico totalmente novo: a paleogenética. "Suas descobertas fornecem a base para explorar o que nos torna exclusivamente humanos", afirmou o comitê.

As descobertas

O comitê do Nobel afirmou que o cientista sueco levou o prêmio porque realizou algo aparentemente impossível: sequenciou o genoma do Homem de Neandertal, um parente extinto dos seres humanos de hoje em dia. Fora isso, um hominídeo anteriormente desconhecido, o Denisova, também foi descoberto por Svante Pääb.

A evolução humana e a disseminação dos humanos pelo mundo foram temas exploradas ao longo dos anos pelo trabalho do cientista sueco. Pääbo também descobriu que a transferência de genes ocorreu desses hominídeos agora extintos para o Homo sapiens (a espécie à qual pertencemos) após a saída migratória humana da África há cerca de 70.000 anos, uma informação importante que ajuda a entender como o mundo era povoado nessa época.

Como o DNA (a molécula de de informação genética de um organismo) se modifica quimicamente e se degrada em pequenos fragmentos ao longo do tempo, identificar o genoma desses ancestrais humanos não foi uma tarefa fácil.

O cientista sueco teve que utilizar métodos genéticos modernos e analisar o DNA de mitocôndrias de neandertais (pequenas estruturas encontradas em células e que são responsáveis pela produção de energia) de um pedaço de osso de 40.000 anos.

Como o genoma mitocondrial contém uma fração da informação genética da célula, Pääbo conseguiu então sequenciar, pela primeira vez, uma região do DNA de um ancestral humano extinto. Esses resultados mostraram que os neandertais têm características distintas que não são encontradas encontradas em humanos modernos e chimpanzés.

Ainda de acordo com o comitê, o cientista levou a láurea de Medicina deste ano porque essas descobertas são fundamentais para o entendimento de como o nosso sistema imunológico reage a infecções. Isso porque a paleogenética revela como a sequências de genes ancestrais de nossos parentes extintos influenciam o funcionamento do corpo humano.

Na população tibetana de hoje em dia, por exemplo, um certo tipo de gene (EPAS1) encontrado entre os hominídeos de Denisova há 50 mil anos confere uma vantagem de sobrevivência em grandes altitudes e é bastante comum entre os tibetanos.

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

O vírus que destrói câncer e pode revolucionar tratamento de tumores avançados.

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Resumo: Um novo tipo de tratamento contra o câncer que usa um vírus comum para infectar e destruir células nocivas está se mostrando bastante promissor nos primeiros testes em humanos, dizem cientistas do Reino Unido. O câncer de um paciente desapareceu, enquanto outros viram seus tumores encolherem.

A droga é uma forma enfraquecida do vírus da herpes — herpes simplex — que foi modificado para matar tumores. Estudos maiores e mais prolongados são necessários, mas especialistas dizem que a injeção pode, por fim, oferecer uma tábua de salvação para mais pacientes com câncer avançado.

Krzysztof Wojkowski, um construtor de 39 anos do oeste de Londres, é um dos pacientes que participaram da fase 1 do teste de segurança em andamento, administrado pelo Instituto de Pesquisa do Câncer do Royal Marsden NHS Foundation Trust. Ele foi diagnosticado em 2017 com câncer nas glândulas salivares, perto da boca. Apesar da cirurgia e de outros tratamentos na época, seu câncer continuou a crescer. "Me disseram que não havia mais opções para mim, e que eu estava recebendo cuidados de fim de vida. Foi devastador, então foi incrível ter a chance de participar do estudo".

Um curto curso da terapia baseada no vírus — que é uma versão especialmente modificada do vírus da herpes que normalmente causa herpes labial — parece ter eliminado o tumor. "Tomei injeções a cada duas semanas durante cinco semanas que erradicaram completamente meu câncer. Estou livre do câncer há dois anos."

As injeções, aplicadas diretamente no tumor, atacam o câncer de duas maneiras — invadindo as células cancerosas e fazendo-as romper, e ativando o sistema imunológico. Cerca de 40 pacientes tentaram o tratamento como parte do estudo. Alguns tomaram apenas a injeção de vírus, chamada RP2. Outros tomaram ainda outro medicamento contra o câncer — chamado nivolumab. Os resultados, apresentados em uma conferência médica em Paris, na França, mostram que:

  • Três em cada nove pacientes que tomaram apenas RP2, incluindo Krzysztof, viram seus tumores encolherem;
  • Sete em cada 30 que receberam tratamento combinado também pareceram se beneficiar;
  • Os efeitos colaterais, como cansaço, foram leves em geral.
  • O principal pesquisador do estudo, Kevin Harrington, disse à BBC que as respostas ao tratamento observadas foram "verdadeiramente impressionantes" em uma variedade de cânceres avançados, incluindo câncer de esôfago e um tipo raro de câncer de olho.

"É raro ver taxas de resposta tão boas no estágio inicial de ensaios clínicos, pois seu objetivo principal é testar a segurança do tratamento, e envolve pacientes com câncer muito avançado para os quais os tratamentos atuais pararam de funcionar", afirmou. "Estou ansioso para ver se vamos continuar a ver benefícios à medida que tratamos um número maior de pacientes".

Não é a primeira vez que cientistas usam um vírus para combater o câncer. O NHS, sistema de saúde público do Reino Unido, aprovou um tratamento baseado no vírus do resfriado, chamado T-Vec, para câncer de pele avançado há alguns anos. Harrington chama o RP2 de uma versão turbinada do T-Vec. "Teve outras modificações no vírus para que, ao entrar nas células cancerígenas, efetivamente assine sua sentença de morte".

Marianne Baker, da organização Cancer Research UK, disse que as descobertas encorajadoras podem mudar o curso do tratamento do câncer. "Os cientistas descobriram que os vírus podem ajudar a tratar o câncer há 100 anos, mas tem sido um desafio aproveitá-los com segurança e eficácia."

"Esta nova terapia viral se mostrou promissora em um teste inicial de pequena escala — agora precisamos de mais estudos para descobrir como funciona."

"A pesquisa sugere que combinar vários tratamentos é uma estratégia poderosa, e terapias de vírus como esta podem se tornar parte do nosso kit de ferramentas para vencer o câncer".

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Robô da Nasa encontra moléculas orgânicas em Marte.

Link para matéria completa: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/ansa/2022/09/15/robo-da-nasa-encontra-moleculas-organicas-em-marte.htm

Resumo: O robô Perseverance, da Nasa, encontrou na superfície de Marte rochas que contêm moléculas orgânicas. Os compostos foram achados em fragmentos de uma crista de um metro de altura batizada como "Wildcat" ("Gato selvagem") e situada na cratera Jezero, que há bilhões de anos abrigou o delta de um rio hoje extinto. Segundo a Nasa, o Perseverance desgastou a superfície da rocha para analisá-la com um instrumento chamado "Sherloc", sigla em inglês para Scanner de Ambientes Habitáveis com Raman e Luminescência para Orgânicos e Químicos, mas que também faz referência ao célebre personagem de histórias de detetive Sherlock Holmes.

"A análise do Sherloc indica que as amostras apresentam uma classe de moléculas correlacionadas àquelas dos minerais sulfetos. Os minerais sulfetos encontrados em rochas sedimentares podem fornecer informações significativas sobre o ambiente aquoso no qual se formaram", diz a Nasa. Moléculas orgânicas são compostos formados principalmente por carbono e que normalmente incluem átomos de oxigênio e hidrogênio, mas que também podem conter outros elementos, como nitrogênio, fósforo e enxofre.

"A presença dessas moléculas é considerada uma potencial bioassinatura, ou seja, uma substância ou estrutura que pode ser uma evidência de vida passada, mas que também pode ter sido produzida sem a presença de vida", acrescenta a agência. Moléculas orgânicas são possíveis "tijolos" na construção de moléculas biológicas, porém também podem se formar através de reações químicas.

Em 2013, o rover Curiosity já tinha encontrado evidências de matéria orgânica em amostras de pó de rocha, assim como o Perseverance, mais recentemente, na própria cratera Jezero. A diferença, segundo a Nasa, é que, desta vez, a descoberta ocorreu em uma área onde, em um passado distante, sedimentos e sais foram depositados em um lago onde a vida pode ter existido.

"No passado distante, a areia, a lama e os sais que agora compõem a amostra da Crista Wildcat foram depositados sob condições em que a vida pode ter prosperado", declarou Ken Farley, cientista do projeto Perseverance. "O fato de que matéria orgânica tenha sido encontrada em uma rocha sedimentar - tipo conhecido por preservar fósseis de vida antiga na Terra - é importante. No entanto, por mais capazes que sejam os instrumentos a bordo do Perseverance, novas conclusões terão de esperar até a amostra retornar para a Terra", ressaltou.

A Nasa planeja enviar uma missão para buscar as amostras coletadas pelo Perseverance até o fim da década.

sábado, 10 de setembro de 2022

Paleontólogos brasileiros e britânicos identificam no RS o mais antigo mamífero da Terra

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Resumo: Um grupo de pesquisadores brasileiros e ingleses conseguiu estabelecer que pequenos fósseis encontrados no Rio Grande do Sul no início dos anos 2000 são os mamíferos mais antigos do planeta Terra. A descoberta foi publicada nesta terça-feira (6/9/2022) no periódico inglês Journal of Anatomy.

Os estudos foram realizados com as dentições dos Brasilodon quadrangularis, encontrados em rochas fossilíferas do período Triássico/Noriano, datadas como tendo aproximadamente 225 milhões de anos. Os materiais foram encontrado inicialmente em Faxinal do Soturno, na Região Central do Rio Grande do Sul, e depois em outros pontos do RS. Os pequenos brasilodontídeos tinham apenas 20 cm de comprimento e se assemelhavam aos pequenos roedores atuais.
"Os materiais foram encontrados no início dos anos 2000, mas não tinham uma identidade estabelecida como mamíferos, eles estavam estabelecidos como répteis, estavam fora do quadro mamário", explica o paleontólogo Sergio Furtado Cabreira, doutor em Geologia pelo Programa de Pós-Graduação em Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O pesquisador foi orientado pelo professor Cesar Leandro Schultz, que também assina o trabalho ao lado de pesquisadores de diferentes instituições e áreas.
Cabreira explica que o animal foi descrito desde 2003 na literatura internacional pelo paleontólogo José Bonaparte, mas que, naquele momento, "inexistiam ferramentas acadêmicas para analisar a biologia do animal". Os pesquisadores criaram, então, um novo método que consiste em analisar a dentição de um conjunto de três mandíbulas.
"Nossa pesquisa demonstrou, através de análises de microscopia das mandíbulas e dos dentes, que estes pequenos animais já apresentavam difiodontia, isto é, apenas uma dentição permanente substituindo a dentição de leite”, explica Cabreira. Dessa forma, foi possível constatar que a substituição dos dentes ocorreu dentro de um "padrão tipicamente mamariano placentário", explica.
O pesquisador afirma que o grupo começou a estudar o material em 2004 e, "ao longo dos últimos anos a gente vem agregando ferramentas teóricas para que pudéssemos interpretar as lâminas histológicas". Ele destaca que mandíbula do animal tem cerca de 2 centímetros.


A pesquisa analisou a mandíbula dos animais — Foto: Rochele Zandavalli / UFRGS

A descoberta
De acordo com Cabreira, a descoberta muda o paradigma do que era entendido até então como os primeiros caracteres mamarianos. "Os métodos atuais de classificação do que é um mamífero vão ter que se readequar", afirma o pesquisador, incluindo a bibliografia acadêmica sobre a genética da origem dos mamíferos.

terça-feira, 6 de setembro de 2022

Saúde prorroga campanha de vacinação contra pólio por baixa adesão

Link para matéria completa: https://www.tecmundo.com.br/ciencia/246244-saude-prorroga-campanha-vacinacao-polio-baixa-adesao.htm

Resumo: Devido à baixa adesão, o Ministério da Saúde decidiu na segunda-feira (05/09/2022) prorrogar a Campanha Nacional de Vacinação contra a poliomielite, que seria encerrada na próxima sexta-feira, para o dia 30 de setembro. O foco da campanha é não apenas vacinar crianças de 1 a 4 anos com as primeiras doses, mas também incentivar a aplicação da dose de reforço em crianças mais velhas.

A quatro dias do final do esforço nacional de imunização, somente 34,4% das crianças entre seis meses e 4 anos 11 meses e 29 dias de idade haviam se vacinado até a segunda-feira (5), segundo a Agência Brasil. O número representa apenas 3,9 milhões de doses, mostrando que uma multidão de 7,5 milhões de crianças ainda não foram vacinadas contra a paralisia infantil no país.

Com a medida, o Ministério prorrogou igualmente a campanha de multivacinação, que acontece de forma concomitante à da pólio, e que tem como objetivo recuperar a cobertura vacinal de crianças e adolescentes que deixaram de tomar, durante o período da pandemia, os imunizantes previstos no calendário nacional de vacinação.

Embora a poliomielite tenha certificado de erradicação no Brasil desde 1994, a baixa cobertura vacinal dos últimos anos fez com que a doença contagiosa aguda continue sendo prioritária na campanha de vacinação. Atualmente, a prefeitura de Rorainópolis, em Roraima, está investigando um caso suspeito da doença que, em formas graves, leva à paralisia dos membros inferiores.

Além da Vacina Inativada Poliomielite (VIP), mais 17 imunizantes estão disponíveis para que crianças e adolescentes de até 15 anos atualizem suas cadernetas de vacinação.

sábado, 3 de setembro de 2022

Vazamento de Hidrogênio: NASA suspende novamente o lançamento da missão à Lua

Link para matéria completa: https://canaltech.com.br/espaco/artemis-i-nasa-suspende-novamente-o-lancamento-da-missao-a-lua-224607/

Resumo: A NASA suspendeu novamente, na manhã deste sábado (3/9/2022) o lançamento da missão Artemis I, o primeiro passo em seu ambicioso programa de retorno à Lua.
Desta vez o motivo foi um vazamento de hidrogênio em uma linha de engate rápido que abastece um dos tanques de combustível. A falha foi detectada durante o abastecimento do estágio central do foguete SLS, por volta das 8h30 da manhã, e apesar de múltiplas tentativas não pôde ser resolvida.
O mesmo vazamento já havia se manifestado na tentativa anterior na segunda-feira (29), mas foi corrigido. O motivo do cancelamento naquela data foi outro: um dos 4 motores do estágio central do foguete não atingiu a temperatura necessária para o lançamento, de cerca de -215 ºC. O motor precisa ser resfriado para evitar choque térmico quando o combustível, em temperatura criogênica (-253 ºC), começar a circular por ele.

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Amazônia perdeu o equivalente a dez vezes o estado do Rio de Janeiro em 37 anos, aponta MapBiomas

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Resumo: A Amazônia perdeu o equivalente a 12% de florestas nos últimos 37 anos, de acordo com o levantamento do MapBiomas, divulgado nesta sexta-feira (02/09/2022). A atualização dos dados sobre uso e cobertura da terra de 1985 a 2021 demonstrou que 44 milhões de hectares foram perdidos. O desmatamento é o equivalente a dez vezes a área de todo o estado do Rio de Janeiro.

Durante esses anos, 44,5 milhões de hectares foram convertidos para agropecuária, atividade que representa o principal vetor de desmatamento da região. Em 2021, a agropecuária ocupava 15% do bioma.

“O atual modelo de desenvolvimento econômico, baseado na conversão descontrolada de áreas de vegetação natural, coloca o Brasil frente a graves problemas no atual cenário de mudanças do clima”, explica Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas.

Dentre todos os estados que compõem a Amazônia Legal, o Pará foi o mais desmatado, com 35,2% das florestas convertidas em áreas de agricultura ou pastagem. O estado também tem uma estrada ilegal que atravessa áreas protegidas.

Perda de água e avanço do garimpo

Ainda de acordo com o levantamento, a Amazônia perdeu 14,5% de água, sendo Roraima o estado mais afetado. Em 25 anos houve uma redução de 53%.

Outro ponto de atenção é o avanço do garimpo. Em 2021, a atividade respondeu por três em cada quatro hectares (74%) mapeados como mineração na Amazônia. Dos pouco mais de 217 mil ha de área minerada no bioma, 64% foram mapeados no estado do Pará. Esse estado é também o que registrou maior expansão urbana nos últimos 37 anos.

Pouco mais da metade (54,3%) das áreas florestais remanescentes estão em áreas legalmente protegidas, como Terras Indígenas e Unidades de Conservação (exceto APA) – percentual semelhante ao das formações campestres que estão dentro de áreas protegidas (58,7%).

"Os recentes recordes de desmatamento e de queimadas comprovam que a Amazônia não está protegida. É importante ressaltar que não se trata apenas de desmatamento: parte da floresta remanescente está degradada. Esse processo coloca a floresta mais perto do ponto de inflexão a partir do qual ela entra em colapso", alerta Luis Oliveira Jr., que integra a equipe Amazônia do MapBiomas

Em julho deste ano, a divulgação do segundo o Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD), do MapBiomas demonstrou que só nos últimos três anos (2019-2021) o Brasil perdeu quase um Estado do Rio de Janeiro de vegetação nativa.

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Como se formam os 'rastros de nuvem' que aviões deixam no céu?

Link para matéria completa: https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-62753292

Resumo: Após as primeiras observações no início do século 20, a causa exata dos rastros de nuvens deixados pelos aviões foi motivo de debate por décadas, segundo Ulrich Schumann, professor de física atmosférica do Centro Aeroespacial Alemão (DLR, na sigla em alemão).

As primeiras teorias propuseram que os rastros seriam vibrações do motor do avião ou efeitos de cargas elétricas. Outros imaginaram se elas ocorreriam devido ao vapor d'água supersaturado, mas isso foi descartado porque se acreditava que a quantidade de vapor emitida seria insuficiente.

Descobrir as causas dos rastros dos aviões não foi uma grande preocupação até a Segunda Guerra Mundial, quando eles foram considerados um problema pela primeira vez.

"Eles [os rastros] revelam a posição das aeronaves. Você pode ver o rastro de um avião durante o voo", afirma Schumann. "Por isso, durante a Segunda Guerra Mundial, os militares tentaram evitar os rastros de nuvens porque queriam impedir a visibilidade das suas aeronaves."

As primeiras explicações corretas sobre a formação dessas nuvens foram elaboradas no início dos anos 1940 e 50. Foi quando surgiu o que agora é conhecido como critério de Schmidt-Appleman, que demonstra que as condições para formação dependem da pressão ambiente, da umidade e da relação entre a água e o calor liberados pelo avião.

Em resumo, os rastros dos aviões — chamados em inglês de contrails, abreviação de "trilhas de condensação" — são nuvens de partículas de gelo em formato linear que se formam depois da passagem das aeronaves. Eles podem ter de 100 metros a vários quilômetros de comprimento.

Três coisas são necessárias para que os rastros se formem: vapor d'água, ar frio e partículas sobre as quais o vapor d'água possa condensar-se.

O vapor d'água é produzido pelos aviões quando o hidrogênio do combustível reage com o oxigênio do ar. Em condições frias (tipicamente, abaixo de cerca de -40 °C), ele pode condensar-se, normalmente sobre as partículas de fuligem também emitidas pelos motores das aeronaves, em uma nuvem de gotículas que se congelam para formar partículas de gelo.

De forma geral, o processo relembra o congelamento da respiração em um dia frio de inverno, segundo Schumann.

Nem todas as aeronaves produzem rastros de nuvens. Estima-se que eles ocorram em cerca de 18% dos voos. É preciso que o ar esteja suficientemente frio para que a água congele e, por isso, eles normalmente aparecem apenas acima de certas altitudes — tipicamente, 6 km, ou 20 mil pés.

E a quantidade de voos que produz os rastros de nuvens mais persistentes é ainda menor. Quando o ar é limpo e sem nuvens, os rastros desaparecem rapidamente, pois o ar seco ambiente causa a sublimação das partículas de gelo (elas passam do estado sólido diretamente para o gasoso).

Mas se a atmosfera estiver úmida, as partículas de gelo não conseguem sublimar-se e os rastros podem durar por muito mais tempo.

"Os rastros podem durar apenas alguns minutos se o ar à sua volta for seco, mas, quando for úmido, eles podem persistir e espalhar-se para aumentar a formação de cirros", afirma Tim Johnson, diretor da organização sem fins lucrativos Aviation Environment Federation (AEF), com sede no Reino Unido.

Ele acrescenta que isso é importante porque os rastros de nuvens e o aumento da captura do calor irradiado pela Terra nas nuvens contribuem com o aquecimento do nosso planeta. E esse aquecimento é somado ao outro importante impacto climático da aviação — o CO2 lançado em imensas quantidades pelo escapamento dos aviões, que representa cerca de 2,5% das emissões globais de gás carbônico.

Mas o impacto climático dos rastros dos aviões é muito mais complicado que o das emissões de CO2.


O efeito sobre o aquecimento global

Nos anos 1960, começaram a surgir os primeiros estudos observando que os rastros dos aviões poderiam ter um efeito sobre a Terra, mas de resfriamento, segundo Schumann.

Isso ocorre porque o tom de branco das nuvens induzidas pelos rastros dos aviões reflete a luz solar para longe da superfície da Terra durante o dia, de forma similar aos cirros, que são nuvens naturais também compostas de cristais de gelo.

Mas os cientistas logo perceberam que os rastros de nuvens dos aviões também podem ter efeito de aquecimento da Terra, por meio de um efeito "estufa" de captura da luz infravermelha. "Eles capturam o calor emitido pela superfície da Terra e emitem parte dele de volta para a superfície", afirma Schumann. Este processo é similar à forma como os céus nublados produzem nuvens mais quentes.

Dependendo das condições exatas, um desses efeitos opostos pode sair vencedor. Rastros de nuvens formados sobre um cenário coberto de neve, por exemplo, não aumentam o resfriamento com a reflexão da luz solar, pois a superfície já é branca e refletora. Os rastros dos aviões também aquecem mais à noite, pois não há luz solar para ser refletida por eles. Por isso, o único efeito que ocorre é o de aquecimento.

Tudo isso, aliado à dificuldade de compreensão das condições atmosféricas exatas que formam os rastros dos aviões e sua diferenciação dos cirros naturais depois que eles se espalham pelo céu, faz com que a definição de números exatos sobre o impacto climático dos rastros de nuvens dos aviões seja algo complicado.

Mas a compreensão atual é de que "em média, em todos os países do mundo, ao longo de um ano, os rastros dos aviões aquecem", segundo Schumann.

O último estudo importante sobre o impacto climático dos rastros de nuvens, publicado em 2020, estimou que os impactos da aviação não relacionados ao CO2 — basicamente, os rastros de nuvens — triplicam a "promoção radiativa" das emissões de CO2 isoladamente.

De certa forma, esta é uma comparação capciosa, já que os efeitos de aquecimento dos rastros dos aviões e do CO2 ocorrem em horizontes temporais muito diferentes. "Os rastros de nuvens têm um esforço promotor muito forte, muito mais forte que o CO2. Mas os rastros têm vida curta e desaparecem após cerca de uma hora. Já o CO2 permanece por muito tempo — ele pode permanecer por 100 anos", explica Schumann.

A solução

Ainda assim, os cientistas alertaram que o efeito de captura de calor dos rastros de nuvens poderá triplicar até 2050, se nenhuma medida for tomada. A boa notícia é que esta pode ser, na verdade, uma ação razoavelmente simples. Pesquisadores demonstraram que apenas 2,2% dos voos contribuem com 80% dessa promoção e ajustes relativamente pequenos das altitudes desses voos — com baixo custo de combustível — poderão reduzir enormemente o efeito de aquecimento dos rastros de nuvens.

Pesquisas indicaram ainda que a formação de rastros de nuvens pode também ser reduzida diminuindo-se a quantidade de partículas de fuligem emitidas pelos voos, pois elas fornecem os núcleos onde se formam os cristais de gelo.

Evitar voar através de ar muito úmido, onde podem formar-se rastros de nuvens persistentes, é a medida mais importante neste processo, segundo Schumann, passando-se a voar acima, abaixo ou em volta dessas regiões. Mas ele afirma que são necessárias melhores previsões do tempo para possibilitar esta medida. "As previsões meteorológicas que temos hoje em dia não são suficientemente precisas para este propósito", segundo ele.

Em carta à revista Nature em 2021, dois pesquisadores argumentaram que o ajuste das altitudes de voo para minimizar a formação de rastros de nuvens poderá ser uma das medidas climáticas mais econômicas que podem ser tomadas.

Eles calculam que evitar os rastros de nuvens mais prejudiciais custaria US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,1 bilhões) por ano, com benefício de mais de mil vezes este valor. "Não conhecemos nenhum investimento climático comparável com probabilidade tão alta de sucesso", escreveram eles.

Mas, embora os governos reconheçam os desafios climáticos impostos pelos rastros dos aviões, poucas ações políticas foram tomadas até agora, segundo Tim Johnson. "Todos os objetivos climáticos definidos para o setor pela indústria, pelos países e pelas Nações Unidas referem-se apenas ao CO2", explica ele. "O debate sobre a incerteza científica e medições apropriadas é frequentemente mencionado como razão para dedicar maiores pesquisas em vez de ações."

No Reino Unido, os consultores governamentais sobre mudanças climáticas afirmaram que efeitos não relativos ao CO2, como os dos rastros de nuvens dos aviões, precisam ser objeto de maior atenção.

Observar esses efeitos agora é essencial, especialmente considerando como as tecnologias do futuro, como o hidrogênio, podem reduzir as emissões do setor, segundo Johnson.

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Pesquisa da UFU revela eficácia das formigas para o controle de pragas em lavouras

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Resumo: Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) constatou que as formigas podem diminuir a abundância de alguns grupos de pragas e aumentar a produtividade das colheitas. A descoberta, publicada no jornal britânico The Guardian, indica que o uso desses animais nas lavouras pode ser mais eficaz que a aplicação de pesticidas.

A pesquisa foi liderada pelo aluno do Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Biodiversidade (PPGECO), Diego Anjos, com o apoio de professores da UFU e de universidades de São Paulo e do exterior. "Já estamos investigando as formigas como protetoras das plantas há um tempo. Porém, sempre em ambientes naturais. Como esses ambientes têm sido transformados em plantações, nosso estudo buscou sintetizar o papel das formigas em plantações”, explicou Anjos em entrevista ao portal Comunica UFU.


Para a pesquisa, foram analisadas 26 espécies de formigas. Segundo o pesquisador, embora as formigas também possam ter efeitos negativos, como a diminuição de inimigos naturais das pragas, os serviços e os benefícios delas superam os efeitos negativos, o que faz com que sejam uma solução mais sustentável do que o uso de pesticidas.

“Em geral, com um manejo adequado, as formigas podem ser úteis no controle de pragas e aumentar a produtividade das colheitas ao longo do tempo. Algumas espécies têm eficácia semelhante ou maior do que os pesticidas. Além disso, elas podem ser usadas juntamente com o manejo integrado de pragas: quando as formigas sozinhas não são suficientes”, complementou.

Ainda segundo o estudo, foi constatado que a proteção vegetal proporcionada pelas formigas é impulsionada mais nas agroflorestas do que nas monoculturas.

Com isso, essa técnica pode estimular os agricultores a utilizarem práticas mais sustentáveis, como o controle biológico, e práticas agroflorestais, como uma forma de promover naturalmente as formigas nos sistemas de cultivo. 

terça-feira, 9 de agosto de 2022

Buraco gigante no deserto do Chile não para de crescer e intriga cientistas

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Resumo: Os moradores vizinhos não conseguiam acreditar no que estavam vendo em uma estrada em Tierra Amarilla, cidade de cerca de 15 mil habitantes na região do Atacama, no norte do Chile. Uma enorme cratera circular de 32 metros de largura e 64 metros de profundidade surgiu no meio de uma estrada que atravessa um terreno de propriedade de uma mineradora.

Uma semana depois, o buraco aumentou: seu diâmetro agora é de 36,5 metros, de acordo com as últimas medições de satélite.

Como surgiu

Geólogos consultados pela BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, explicaram que há vários eventos naturais ou resultado da atividade humana que podem causar um sumidouro deste tipo. Mas consideraram principalmente dois: o primeiro estaria relacionado às chuvas intensas que caíram na região no mês de julho. "Você tem várias camadas no solo, e há várias maneiras pelas quais a água pode erodir", afirma o geofísico chileno Cristian Farías, diretor de construção civil e geologia da Universidade Católica de Temuco, no Chile.

Ele explicou que "quando cai muita água da chuva em solos com alto teor de gesso, a água percola e corrói toda a parte inferior por vários dias, o que tira a sustentabilidade da parte superior e acaba gerando um colapso".

A segunda hipótese aponta para a influência da atividade mineradora na área. A companhia de mineração Candelaria explora uma jazida de cobre em Tierra Amarilla, e as galerias de sua mina penetram no subsolo, tanto no entorno do buraco quanto abaixo dele a uma profundidade muito maior. "As informações preliminares que circulam apontam para a intervenção da mineradora que realizou uma exploração excessiva de minerais naquela área", afirma Cristóbal Muñoz, diretor da ONG informativa Red Geocientífica de Chile.

Ele destaca que a empresa "tinha uma projeção prevista para extrair 38 mil toneladas de minério, mas extraiu cerca de 138 mil toneladas, mais que o triplo" naquela jazida. A intervenção da mineração pode ter desestabilizado o solo, segundo ele, desviando as águas subterrâneas do seu curso natural e esvaziando os aquíferos, gerando espaços que favorecem o terreno a ceder e cair devido ao seu próprio peso, formando a cratera. A Candelaria reconhece, por sua vez, a superexploração de minerais, mas garante que foi totalmente legal. "Em relação à extração excessiva, isso foi informado pela própria empresa às autoridades", declarou o gerente de relações públicas da empresa, Edwin Hidalgo.

Uma fonte do setor explicou à BBC News Mundo que é comum que mineradoras de cobre extraiam mais material do que o estimado devido à detonação de explosivos, entre outros motivos. O representante da empresa alegou que é cedo para tirar conclusões e destacou que "estão sendo investigados os diferentes fatos que podem ter causado o sumidouro, entre os quais se destaca a precipitação registrada no mês de julho".

Os moradores de Tierra Amarilla organizaram um protesto no domingo, e o prefeito, Cristóbal Zúñiga, pediu à mineradora que assuma sua responsabilidade, embora não a tenha apontado diretamente como culpada, enquanto aguarda as conclusões da investigação.

A ministra de Minas do Chile, Marcela Hernando, prometeu, por sua vez, ir "até as últimas consequências" para punir os responsáveis uma vez que forem identificados.

Quanto mais o buraco vai aumentar

Os deslizamentos de terra nas paredes do sumidouro têm sido constantes nos últimos dias, a ponto de aumentar seu diâmetro em 450 cm até os atuais 36,5 metros. "Primeiro começou a alargar na parte de baixo; depois começou a criar uma forma assimétrica, e o que está em cima não tem suporte, então começa a cair e vai se alargando de forma lenta mas dramaticamente até chegar à forma de cilindro", observou Farías, autor do livro Volcanes y terremotos ("Vulcões e terremotos", em tradução literal).

Sendo assim, a previsão é de que o buraco continue a crescer pelo menos até que o diâmetro na superfície se iguale ao do fundo, que é de 48 metros.

Muñoz acredita, no entanto, que pode aumentar ainda mais se houver novas desestabilizações no terreno. "De qualquer forma, não poderia ser mais de 200 ou 300 metros, que é o que importa para nós, porque o povoado mais próximo fica a 600 metros", declarou. Ele não descartou, no entanto, que este fenômeno seja reproduzido em outras áreas da região. "As áreas que seriam mais suscetíveis à ocorrência de outros sumidouros também estão sendo estudadas", afirmou.

Não é a primeira vez que um fenômeno do tipo acontece em Tierra Amarilla. Em novembro de 2013, uma cratera de 20 metros de comprimento e 30 metros de largura com 30 metros de profundidade apareceu após o colapso de uma estrutura subterrânea de uma operação de mineração.

Por que é circular

Também chamou a atenção que a cratera forme um círculo quase perfeito. "A aparência redonda de tal buraco se deve à forma do colapso", afirmou Cristian Farías.


O geofísico explicou que o colapso "começa em um ponto e se vai se estendendo de forma simétrica, ou seja, para todos os lados, radialmente, e isso faz com que tudo que colapsa o faça em círculo e pare em algum momento, quando encontra estabilidade.

"Muitas estruturas de colapsos na natureza ocorrem dessa maneira. Quando os vulcões, por exemplo, desmoronam porque o edifício vulcânico cai devido ao seu próprio peso, ou porque havia fluidos que não estão mais lá, a estrutura que é gerada costuma ser bastante circular; às vezes, um pouco mais oval, mas mais frequentemente circular".

O que vai acontecer com a cratera

Ainda não se sabe também o que o futuro reserva para o inesperado sumidouro de Tierra Amarilla. O buraco será tapado ou ficará à mercê das intempéries? "A capacidade volumétrica que este sumidouro tem é bastante grande. Para ser honesto, não pode ser tapado facilmente, então uma solução seria cercar esse perímetro e colocar barreiras de segurança", avalia o diretor da Red Geocientífica de Chile.

Para Muñoz, é importante "garantir que as pessoas não se aproximem para tirar fotos", pois podem ocorrer acidentes. Ele afirmou ainda que, mesmo que se tentasse tapá-lo, poderia ser em vão devido à própria natureza do buraco. "Tem que pensar que parte da terra que caiu não está mais embaixo, porque tem um fluido que é a água. Quando caiu, foi como por um rio."

O gerente de relações públicas da mineradora assegurou, por sua vez, que grande parte dos sedimentos teria se acumulado no fundo do buraco, reduzindo sua profundidade de 64 para 62 metros, segundo suas últimas medições.

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Cientistas restauram funções de células e órgãos em porcos mortos

Link para matéria completa: https://www.tecmundo.com.br/ciencia/242945-cientistas-restauram-funcoes-celulas-orgaos-porcos-mortos.htm

Resumo: Cientistas da Universidade Yale, nos Estados Unidos, descobriram uma maneira de atrasar a destruição permanente das células e órgãos que ocorre depois da morte. Para isso, eles usaram uma nova tecnologia, chamada OrganEx – um fluido protetor capaz de restaurar a circulação sanguínea e outras funções celulares uma hora após a morte, ao menos em porcos.

A expectativa é que as descobertas possam ajudar a estender a saúde dos órgãos humanos durante cirurgias e expandir a disponibilidade de órgãos para transplante, segundo os autores. A pesquisa foi publicada na revista Nature.

David Andrijevic, pesquisador de neurociência da escola de Medicina da Universidade Yale e autor principal do estudo, explicou, em uma publicação da instituição, que as células não morrem imediatamente, e sim após uma série mais prolongada de eventos. “É um processo no qual você pode intervir, parar e restaurar alguma função celular”, continuou o cientista.

No estudo, os pesquisadores aplicaram o fluido em um porco, via dispositivo de perfusão (mecanismo que bombeia sangue nos pulmões) – semelhante às máquinas coração-pulmão ECMO, que podem fazer o trabalho do coração e dos pulmões durante uma cirurgia –, após uma parada cardíaca induzida no animal anestesiado, por uma hora após a morte.

Seis horas após o tratamento, os cientistas descobriram que certas funções celulares essenciais ainda estavam ativas em muitas áreas do corpo dos porcos – inclusive no coração, fígado e rins – e que algumas funções dos órgãos haviam sido restauradas, inclusive atividade elétrica no coração, que manteve a capacidade de se contrair. A equipe também conseguiu restaurar a circulação sanguínea do animal.

“No microscópio, era difícil dizer a diferença entre um órgão saudável e um que havia sido tratado com a tecnologia OrganEx após a morte”, contou um dos pesquisadores.

Embora a atividade celular de algumas áreas do cérebro tenha sido restaurada, nenhuma atividade elétrica organizada que indicasse a consciência foi detectada durante qualquer parte do experimento.

Para a equipe, a nova tecnologia oferece várias aplicações potenciais, como prolongar a vida útil de órgãos em pacientes humanos e expandir a disponibilidade de órgãos de doadores para transplante, além de ajudar a tratar órgãos ou tecidos danificados por isquemia durante ataques cardíacos ou derrames.

quinta-feira, 28 de julho de 2022

Cães são clonados pela 1ª vez a partir de células editadas por CRISPR

Link para matéria completa: https://www.tecmundo.com.br/ciencia/242453-caes-clonados-1-vez-partir-celulas-editadas-crispr.htm

Resumo: Cientistas da empresa de biotecnologia ToolGen, da Coreia do Sul, conseguiram gerar dois cães da raça beagle através de um processo de clonagem de células da pele editadas geneticamente pela técnica CRISPR. Embora criação de cães a partir dessa técnica já tenha sido realizada por cientistas chineses, esta é a primeira vez que a edição ocorre em células clonadas, em vez de óvulos fertilizados.

O uso da técnica teve como objetivo eliminar mutações genéticas causadoras de doenças normalmente presentes em cães com pedigree, gerados por endogamia. A ideia é que eventuais alterações gênicas presentes na estrutura do DNA dos animais possam ser removidas sem que ocorram alterações em outras características, como ocorreu na edição de genes de óvulos.

Pesquisadora líder do estudo, a médica veterinária Okjae Koo explicou que, entre os problemas gerados pela endogamia, estão spaniels com cérebros maiores que seus crânios e boxers com epilepsia.

Como foi feita a clonagem dos dois beagles?

Para clonar os filhotes de beagle, Okjae e sua equipe usaram a ferramenta CRISPR-Cas9 para editar genes da pele geneticamente modificada, para mutar um gene chamado DJ-1, associado a doenças como o Parkinson.  A supressão da proteína foi combinada com a adição de vários genes, entre os quais uma proteína verde fluorescente para facilitar a detecção das células editadas.

Após editadas, as células foram colocadas ao lado de óvulos com DNA previamente retirado. Em seguida, pulsos curtos de eletricidade foram usados para fundir o material orgânico. Assim, foram criados 68 embriões que, implantados em seis mães diferentes, resultaram em dois filhotes. Com 22 meses de vida, os cães não apresentam nenhuma anomalia, embora doenças ligadas ao DJ-1 surjam em idade mais avançada.

Chamados de Tiangou e Hercules, os dois beagles têm mais massa muscular do que os seus homólogos sem edição genética. A equipe continua usando a técnica para criar mais “irmãos” para a dupla. Embora esses cães estejam sendo criados para pesquisas médicas, algumas empresas norte-americanas, como a ViaGen, oferecem clones de pets falecidos ao preço de R$ 50 mil (R$ 262 mil) por filhote.

Comentário: Ops... chegou a Era do RePET (do filme O Sexto Dia).

quinta-feira, 23 de junho de 2022

COVID-19: Vacinados têm morrido tanto de COVID-19 como os não vacinados? Pode parecer, mas não

Link para matéria completa: https://www.unasus.gov.br/especial/covid19/markdown/548

Sérgio de Andrade Nishioka
Médico infectologista e Doutor em Epidemiologia

Resumo: Ultimamente ouve-se, e lê-se nas redes sociais, com alguma frequência, que a prova de que as vacinas contra a COVID-19 não funcionam é que as mortes por esta doença estariam igualmente divididas entre vacinados e não vacinados. Tais informações são trazidas por pessoas que são contra as vacinas, mas também por outras que são apenas desinformadas. Mesmo ignorando as mensagens deliberadamente falsas, dados oficiais sobre mortes por Covid de fato têm incluído uma proporção crescente de pessoas já vacinadas, seja com esquema primário completo ou não e, entre os primeiros, que receberam ou não dose de reforço. Como pode ser isso?


Artigo publicado na revista Scientific American explica claramente do que se trata, com base em dados oficiais dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, para março de 2022 [1]. Naquele mês, em 28 Departamentos de Saúde locais (municipais) e estaduais representativos do país, e que monitoram óbitos por Covid em pessoas a partir dos 12 anos de idade, a média semanal de mortes por esta doença foi de 644 casos, dos quais 383 não eram vacinados, e dos 261 restantes, 143 haviam recebido apenas o esquema de vacinação primário completo (duas doses das vacinas da Pfizer ou da Moderna ou uma dose da vacina da Janssen, que são as vacinas disponíveis naquele país), e 118 o esquema primário completo mais pelo menos uma dose de reforço.
A diferença entre 383 e 261, embora tenham morrido mais não vacinados do que vacinados, não é tão grande assim, e se levarmos em consideração apenas os números absolutos, talvez não seja suficiente para convencer alguns sobre a vantagem de se vacinar. Ocorre que não basta contar as mortes e compará-las entre vacinados e não vacinados, é necessário também saber quantas pessoas foram vacinadas. No caso, cerca de 127 milhões, somando-se os que receberam apenas vacinação primária com os que receberam dose(s) de reforço, enquanto cerca de 38 milhões não receberam a vacina. Sim, nos Estados Unidos, já em março, a grande maioria das pessoas a partir de 12 anos de idade já tinha sido imunizada contra a Covid e, parte delas, inclusive recebido uma ou duas doses de reforço.
Quando se compara coeficientes de mortalidade (expressos pelo número de óbitos por 100.000 pessoas) ao invés de números absolutos de mortes entre vacinados e não vacinados, a diferença entre eles é marcante. Entre as pessoas não vacinadas o coeficiente semanal de mortalidade por 100.000 pessoas (padronizado por idade, para a população de 12 anos de idade ou mais) foi de 1,71, enquanto entre as pessoas vacinadas e que receberam reforço(s) ele foi de, respectivamente, 0,22 e 0,1 por 100.000.
Uma forma de comparar esses coeficientes de mortalidade é calcular a razão entre eles. No mês de março de 2022 a mortalidade por COVID-19 em pessoas de 12 anos ou mais entre não vacinados foi 17 vezes mais alta que a observada entre vacinados que receberam reforço da vacina, e 8 vezes mais alta do que os que só receberam o esquema primário de imunização, o que sugere o papel protetor conferido pelas doses de reforço.
A COVID-19 é uma doença mais grave em pessoas idosas, que são mais hospitalizadas e têm maior risco de necessitar de cuidados intensivos do que crianças e adultos jovens. Também são os idosos que têm maior risco de morrer pela Covid. É interessante, pois, estratificar os coeficientes por faixas etárias. Feito isso para os dados do CDC para o mês de março de 2022, para pessoas de 65 anos de idade ou mais o coeficiente de mortalidade por Covid entre não vacinados foi de 9,29 por 100.000, entre vacinados (apenas esquema primário) foi de 1,18, e entre os que receberam dose(s) de reforço foi de 0,55.
A diferença entre vacinar-se contra a COVID-19 ou não continua clara, a probabilidade de se morrer por Covid sendo muito mais alta entre os não vacinados, diferença que é principalmente devida à redução da probabilidade de morte entre os vacinados na faixa etária de 65 anos ou mais. Dose(s) de reforço da vacina também mostraram um benefício adicional na redução de óbitos por Covid.
Quanto maior a cobertura vacinal contra a Covid, menor vai ser o número de pessoas não vacinadas e, assim sendo, a comparação do número absoluto de eventos, como óbitos, entre vacinados e não vacinados passa a induzir ao erro. O indicado é a comparação de coeficientes, que leva em consideração não só os numeradores, mas também os denominadores.

Referência
[1] Montañez A, Lewis T. How to compare COVID deaths for vaccinated and unvaccinated people. Scientific American, 7 de junho de 2022. (Disponível em https://www.scientificamerican.com/article/how-to-compare-covid-deaths-for-vaccinated-and-unvaccinated-people/).

sexta-feira, 29 de abril de 2022

Jararaca-ilhoa e mais 1,8 mil espécies: estudo de 10 anos mostra que 21% dos répteis estão sob risco de extinção

Link para matéria completa: https://g1.globo.com/ciencia/noticia/2022/04/27/jararaca-ilhoa-e-mais-18-mil-especies-estudo-de-10-anos-mostra-que-21percent-dos-repteis-estao-sob-risco-de-extincao.ghtml

Resumo: Cerca de duas em cada dez espécies de répteis do mundo estão ameaçadas de extinção, aponta um estudo inédito feito com mais de 10 mil espécies e publicado na revista científica "Nature" nesta quarta-feira (27/04/2022).

A pesquisa é uma das primeiras do tipo a avaliar de forma abrangente o risco de extinção para essa classe de animais. Ela foi liderada por pesquisadores da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) e pela ONG Conservação Internacional.

Nos últimos anos, outros grandes estudos do tipo já tinham sido feitos para aves, anfíbios e mamíferos, mas não para répteis especificamente. "Grande parte do trabalho de conservação de animais era feito com esses (outros) grupos. A gente não tinha uma avaliação global dos répteis. Agora esse trabalho andou e finalmente temos a primeira [pesquisa] mundial", comemora Márcio Roberto Costa Martins, professor do Departamento de Ecologia da USP, que participou da publicação.

A pesquisa durou mais de 10 anos e envolveu 900 cientistas de 24 países (representando os seis continentes). Eles analisaram as necessidades de conservação de répteis como lagartos, cobras, tartarugas e crocodilos. Das 10.196 espécies avaliadas, cerca de 1.829 (21%) estão ameaçadas de extinção (categorizadas como vulneráveis, em perigo ou criticamente em perigo, conforme a lista vermelha da IUCN).

A análise também indicou que as duas espécies mais ameaçadas de répteis são os crocodilos e as tartarugas: cerca de 57,9% e 50,0% dos representantes dessas duas espécies avaliadas estão sob ameaça, respectivamente.

No Brasil, o trabalho foi coordenado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e contou com a participação de dezenas de pesquisadores. E a ciência brasileira ofereceu uma grande contribuição para a pesquisa. Márcio Martins explica que das 10 mil espécies de répteis avaliadas, cerca de 800 ocorrem no país e, por isso, foram estudadas. Além disso, as principais espécies de répteis ameaçadas por aqui, segundo o pesquisador, são a jararaca-ilhoa, a jiboia amarela (Corallus cropanii) e as tartarugas marinhas.

"A jaraca-ilhoa é um caso emblemático porque teve um declínio populacional grande. Metade da população da espécie foi perdida muito provavelmente por exploração ilegal e tráfico de animais", conta Martins. "Já a cobra amarela, que passou por mais de 50 anos sem ser observada no país, começou a reaparecer, em alguns indivíduos, nos últimos anos. O que faz a gente acreditar que esse é um animal muito difícil de ser detectado na natureza". Já as tartarugas marinhas têm as cinco espécies que ocorrem no Brasil ameaçadas de extinção.

De acordo com os pesquisadores, embora os répteis sejam conhecidos por habitarem lugares inóspitos como desertos e vegetações áridas, a maioria das espécies ocorre em habitat florestais e, por isso, sofrem com as crescentes ameaças de exploração madeireira e de desflorestamento causado pela indústria agrícola.

quinta-feira, 28 de abril de 2022

Pesquisadores descobrem maior fóssil de dinossauro da família dos 'megaraptors'

Link para matéria completa: https://g1.globo.com/ciencia/noticia/2022/04/28/pesquisadores-descobrem-maior-fossil-de-dinossauro-da-familia-dos-megaraptors.ghtml

Resumo: Paleontólogos argentinos revelaram nesta quarta-feira (27/04/2022) a descoberta dos restos fossilizados do maior dinossauro pertencente à família dos "megaraptors".

O dinossauro, uma nova espécie chamada Maip macrothorax, tinha entre 9 e 10 metros de comprimento, diferentemente da maioria dos outros "megaraptors", que não chegavam a mais de 9 metros.

De acordo com a equipe de pesquisadores, as características desse novo dinossauro são inéditas, pois além da altura singular, ele pesava aproximadamente cinco toneladas e sua coluna era composta de enormes vértebras, interligadas por um complexo sistema de músculos, tendões e ligamentos, que a equipe conseguiu reconstruir a partir de uma série de sulcos e rugosidades em suas regiões articulares.

"Este animal é muito grande em tamanho e conseguimos recuperar muitos pedaços", contou à Reuters um dos responsáveis ​​pela descoberta, o pesquisador Mauro Aranciaga Rolando.

Os fósseis foram descobertos em março de 2019, na província de Santa Cruz, na Patagônia, dias antes da aplicação das restrições sanitárias da pandemia de Covid-19 na Argentina, disse o Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Técnica do país, ao qual pertencem os especialistas que encontraram o dinossauro.

Além do grupo, dois cientistas japoneses também participaram do estudo. Devido à pandemia, os paleontólogos inicialmente tiveram que distribuir os fósseis entre eles e analisá-los em casa.

Acredita-se que o dinossauro carnívoro tenha habitado o que hoje é o extremo sul da Argentina há 70 milhões de anos, durante o período Cretáceo.

Megaraptors eram animais com um esqueleto ágil, uma cauda longa que lhes permitia manobrar e se equilibrar, um pescoço comprido e um crânio alongado com mais de 60 dentes pequenos, acrescentou Aranciaga Rolando.

À agência argentina CTyS o pesquisador contou ainda que o nome da nova espécie vem da mitologia Tehuelche, de uma criatura que vivia nas montanhas e matava usando o frio.