Trecho: Foi um dos primeiros filmes já feitos. Um cavaleiro galopando filmado em 1878 pelo fotógrafo britânico Eadweard Muybridge, que tentava descobrir se os cavalos, ao galopar, em algum momento não tocavam o chão, ficavam sem nenhum dos cascos em contato com o solo.
Mais de um século depois, esse pequeno filme novamente faz parte da vanguarda.
Ele é o primeiro filme da história a ser armazenado no DNA de uma célula viva, do qual poderá ser recuperado quando se quiser, além de se multiplicar indefinidamente conforme o hospedeiro se divide e cresce.
A novidade, desenvolvida por pesquisadores da Universidade Harvard, nos EUA, e publicada nesta quarta-feira (12/06/17) na revista "Nature", é o exemplo mais recente – e possivelmente um dos mais espantosos – do vasto potencial genômico para armazenagem de dados.
Até o momento, cientistas já guardaram em DNA todos os sonetos de Shakespeare. George Church, geneticista de Harvard e um dos autores do novo estudo, recentemente armazenou seu próprio livro "Regenesis" no DNA de uma bactéria e fez 90 bilhões de cópias dele.
"Um recorde de publicação", afirmou o geneticista em uma entrevista.
Com a nova pesquisa, os cientistas começam a imaginar a possibilidade de um futuro ainda mais estranho: programar uma bactéria para gravar o que células humanas estão fazendo –quase fazer um "filme" da vida celular.
Church e Seth Shipman, um geneticista, e seus colegas começaram o trabalho armazenando as diferentes tonalidades de cinza dos pixels (e códigos de barras que indicavam suas posições na imagem) em 33 letras de DNA. Cada frame do filme continha 104 desses fragmentos de DNA.
Ao fim, os geneticistas tinham uma sequência inteira de DNA que representava o filme completo.
O passo final foi usar Crispr, uma poderosa técnica de edição gênica, para inserir a sequência de DNA em uma bactéria comum, a E.coli.
Mesmo com a modificação, a bactéria se multiplicou normalmente. Segundo os pesquisadores, o filme permaneceu intacto nas gerações seguintes da bactéria.
Há meio século, décadas antes de qualquer um conseguir sequenciar o genoma, o renomado físico Richard Feynman propôs que o DNA poderia ser usado para armazenar dados.
"Biologia não é simplesmente escrever a informação; é fazer alguma coisa em relação a ela", disse Feynman em um palestra em 1959. "Imagine a possibilidade de criar algo minúsculo que faça o que quisermos."
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